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"Caixa Preta": longa francês mistura sentidos em um suspense eletrizante | 2022

NOTA 8.5

Por Eduardo Machado 

Não é tão fácil desmentir a tese, difundida por muitos, de que falta criatividade no cinema atual, principalmente no cinema mais comercial. Os que reclamam, entretanto, não deveriam deixar passar “Caixa Preta”, filme francês em exibição nos cinemas brasileiros pela produtora e distribuidora Bonfilm. É fato que há referências que podem ter sido pinçadas, incluindo o também francês "Alerta Lobo" (2019), mas o diretor Yann Gozlan tem seu jeito próprio de filmar e o resultado é que ele leva os filmes sobre desastres aéreos a uma outra dimensão.

O protagonista do filme é Mathieu Vasseur (Pierre Niney), um especialista em análise de caixa preta que trabalha na BEA, departamento de investigação e segurança da aviação francesa. Assim, quando ocorre a queda de um avião com destino a Paris, é para lá que é enviada a caixa preta para análise. O nosso protagonista, no entanto, apesar da audição apurada não é afeito a ouvir opiniões alheias e, por isso, é, inicialmente, afastado do caso. Seu histórico de obsessão profissional, que já o induziu a erros de julgamento no passado, é, porém, posto à prova de novo, quando, subitamente, seu superior imediato se ausenta e ele é reconduzido à investigação do acidente.

Mathieu, claramente, não é um herói infalível. Suas diversas nuances, no entanto, as mesmas que o tornam pouco confiável para exercer o serviço que lhe incumbe, são importantes para se conectar com o público. Sua falta de ética facilita que enxerguemos o homem real que tenta acertar, mas toma decisões equivocadas. A gente se vê no lugar dele. O roteiro capricha na caracterização do personagem e o texto é um presente, o qual o ator Pierre Niney sabe bem como usar construindo um personagem complexo, mas sempre muito humano.

Apesar da brilhante construção do personagem principal, o filme está longe de ter uma nota só. A montagem e os recursos visuais utilizados contribuem para nos colocar na pele do protagonista. A velocidade com que ele manuseia suas ferramentas, o ritmo em que suas suspeitas crescem, são partes de um todo que comprovam que “Caixa Preta” é um filme elaborado por mãos meticulosas (talvez parecidas com as do protagonista), cheio de reviravoltas que não nos deixam desligar.

Com Mathieu, o público ouvirá e assistirá à acústica da caixa preta em um thriller tão bem filmado que por vezes parece poético. É para fazer enxergar com os ouvidos e ouvir com os olhos, o tipo de sinestesia que o cinema pode provocar.


Vale Ver!



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