'Inverno' , de Paulo Fontenelle, se vale do momento pandêmico para falar de traumas profundos | 2022
NOTA 6.5
Por Rogério Machado
Ainda que se passe bem no auge da pandemia de Covid-19 durante a quarentena de um casal, 'Inverno' do cineasta Paulo Fontenelle ('Divã a 2'), não pretende aqui narrar os medos e infortúnios que vivemos durante esse dois últimos anos. A produção recém lançada com exclusividade no Telecine tem roupagem de suspense, mas para desfiar a teia a respeito de um trauma recém vivido por esse casal.
Na trama, conheceremos o casal Rodrigo (Renato Góes) e Beatriz (Thaila Ayala). Os dois convidam a amiga Ana (Bárbara Reis) para passar alguns dias em sua casa durante a quarentena. Mas o que poderia ser um escape para distrair e aliviar o estresse se torna um pesadelo quando em uma manhã, Rodrigo vê o nome de Ana em um jornal, na lista de óbitos por Covid-19. Todos acham estranho e acreditam que foi apenas um erro na publicação, mas eventos assustadores começam a acontecer pela casa. Rodrigo fica intrigado e inicia uma investigação pessoal para descobrir se Ana está realmente viva.
Beatriz acabou de perder um bebê e ouve um choro de criança pela casa, e paralelo a isso Ana começa a ter atitudes suspeitas que confrontam o espectador das reais intenções dela naquela casa, assim como o passado dela com Beatriz. No meio disso está Rodrigo, que busca respostas sobre o nome de Ana na lista de mortos pela Covid. E é aí que reside uma das falhas no roteiro de 'Inverno', que não se aproveita desse mote para à partir daí construir um clima de horror, o que de início parece funcionar. A distração criada pelo choro de criança que atormenta a vida de Beatriz toma pra si todo destaque do que deveria ser melhor trabalhado na trama, que flerta com jumpscares e efeitos sonoros que em algumas sequências soam exagerados.
Um fator curioso e que ao menos confere organicidade na construção de personagem é que a casa que serve de locação para a produção é a casa onde os protagonistas moram na vida real, já que são casados e inclusive cederam imagens do grande dia para que Rodrigo recorde através de registros em vídeo os bons momentos de um amor fresco, sem as pressões do dia a dia ou os fantasmas que se abatiam sobre ele naquele momento.
O roteiro de Thaila Ayala (desconhecia esse talento da atriz) se vale de algumas referências do cinema de gênero. É impossível por exemplo não fazer uma conexão direta com o marcante 'Os Outros' (2001), de Alejandro Amenábar. Os fórmulas no uso de luz e sombra e uma fotografia densa, com closes para dar e vender são um aperitivo, pena que nada disso soa inovador e nem causa desconforto ou sustos. A concepção e a ideia são maiores do que a realização na prática, mas ainda assim creio ser uma experiência válida se aventurar na sessão, há que se considerar que a direção de Fontenelle acerta ao saber levar o espectador até o fim, mesmo que entregue as surpresas com certa facilidade.
Vale Ver Mas Nem Tanto!
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