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'Cidade Perdida' é sobre os que se acham, mas estão perdidos e precisam se encontrar | 2022

NOTA 7.0 

Brad Pitt salva qualquer coisa!

Por Vinícius Martins @cinemarcante

Em abril de 2012, exatamente dez anos atrás, conheci uma das séries que mais gosto até hoje; 'Castle', protagonizada por Nathan Fillion e Stana Katic. O episódio piloto apresenta Richard Castle (Fillion), um excêntrico escritor de suspense e mistério que se depara com um convite da polícia de Nova York para ajudar a desvendar uma onda de assassinatos que passam a acontecer de maneira idêntica às descritas em seus livros. O assassino, cujo estilo era uma cópia das palavras de Castle, é pego graças ao empenho do autor e da detetive Kate Beckett (Katic), e a partir daí surge uma parceria que perdura por oito temporadas. O foco que deixo aqui, contudo, está nesse primeiro episódio; eu poderia citar, tranquilamente, mais meia dúzia de obras cujo enredo se assemelha de forma extremamente característica ao apresentado no piloto de 'Castle', e entre elas está 'Cidade Perdida'.

Estrelado por Sandra Bullock e Channing Tatum, o filme chegou aos cinemas no meio de abril apresentando uma trama imensamente batida: o paralelo entre um livro e a realidade dos personagens que o leem, e de como a vida deles é afetada positiva ou negativamente pela obra ficcional em questão por causa de alguém que resolve seguir as palavras como um modelo pessoal. Aqui temos a apropriação de um mito há muito narrado em diversas culturas, e o roteiro coloca um bilionário ambicioso como gatilho para fazer a trama acontecer. Tudo não passa de um jogo de ambições; temos, além do bilionário, o ator que quer mostrar que é mais do que apenas um rostinho bonito, e uma escritora que… bem, vou deixar esse comentário para o filme, pois ele grita por si só. A escolha de 'Castle' como comparativo a essa obra foi por afinidade, mas dá para lembrar, em especial, de 'Tudo Por Uma Esmeralda', de 1984, que é um filme muito parecido com o que temos agora. Contudo, a falta de originalidade não significa, necessariamente, falta de graça.

O humor que se constrói em 'Cidade Perdida' é de um teor físico muito engraçado, onde a falta de jeito dos personagens com a selva se torna um atributo do riso da sessão inteira (vide 'Jumanji: Bem-vindo à Selva', de 2018). Tatum é um manequim de herói que almeja se tornar portador dos méritos do personagem a quem dá rosto, enquanto Bullock é a autora cujo momento de criatividade afetada é interrompido por um leitor emocionado e muito rico (interpretado com maneirismos graciosos por parte de Daniel Radcliffe) que acredita fervorosamente naquilo que leu. Somado a esses nomes, em momentos em que chega para roubar a cena para si, está o homenzarrão Brad Pitt, com um ótimo tempo de comédia - em uma missão de salvamento que é, principalmente, do filme. Entretanto, o maior problema do filme, acredito eu, seja a síndrome de 'Um Parto de Viagem' (2010) que o assola.

O longa estrelado por Robert Downey Jr. e Zach Galifianakis tem seus momentos e é até engraçado, mas somente para o público que não assistiu ao trailer antes de vê-lo. Todos os momentos chave da trama estão lá, inclusive os mais engraçados e surpreendentes também. A equipe de marketing de 'Um Parto de Viagem' pode muito bem ser a mesma que agora vende 'Cidade Perdida' para a Paramount. O filme de Todd Phillips caiu em um limbo colossal, como um esquecimento coletivo, de tão desastroso que foi - e isso eu não desejo para 'Cidade Perdida' porque, além de gracioso em meio ao clichê, ele tem potencial para uma franquia e é o retorno de Bullock às boas comédias como em 'A Proposta', de 2009. Esse novo filme tem bons momentos mesmo apesar de não ser nada inovador, e nem tampouco uma obra a se aplaudir de pé; na verdade, ele é um desses filmes para rir na poltrona e esquecer da vida por duas horas como o bom e velho cinema escapista do mundo real. Ele tira risos e é até cativante, mas também é refém de sua própria ambição em ser grande demais quando, na verdade, a graça está nas pequenas coisas - Brad Pitt que o diga… enfim, veja o filme como uma aventura romântica cheia de comédia e cenas mirabolantes de ação improvável, se divirta mesmo sabendo de antemão tudo que vai acontecer no roteiro um tanto previsível, e seja feliz com a química de Tatum e Bullock na tela.


Vale Ver!




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