'Azul Cobalto' : drama gay indiano aposta em triângulo amoroso enquanto discute quebra de tradições | 2022
NOTA 8.0
Por Rogério Machado
Aprecio sem medida o cinema fora do eixo hollywoodiano ou mesmo Europeu; me é cara sobretudo a profundidade alcançada no cinema asiático. 'Azul Cobalto' é um representante indiano que chegou recentemente à Netflix, e muito além de pleitear diversidade, a produção discute com altas doses críticas os costumes e a cultura local, como os casamentos arranjados, assunto sempre tão manuseado na dramaturgia daquele lugar.
Baseado no romance de mesmo nome do diretor Sachin Kundalkar, a trama introduz sua narrativa em tom solar, apresentando os personagens um a um , ressaltando suas particularidades, aptidões e desejos sem se aprofundar nos dilemas que os cercam em função de suas naturezas e escolhas. Alguns caminhos estéticos e narrativos inicialmente parecem inocentes e despretensiosos em excesso, mas na segunda parte o contexto social no qual o longa se insere assume as rédeas e efetivamente se aprofunda tanto no questionamento da cultura daquele lugar, como também trabalha as questões de gênero, que é o ponto central da produção.
A cultura patriarcal e machista é quebrada pelo comportamento de Anuja, a filha mais nova que joga hóquei, tem os cabelos curtos (característica totalmente inversa ao padrão visto entre as moças na Índia) e o pior de tudo - ao menos na opinião de seus pais - o desinteresse em aceitar o casamento arranjado ansiado pela família. Já os caminhos de seu irmão, Tanay, o protagonista dessa história, percorrem o amor pela literatura e a descoberta da sexualidade, que é aguçada quando esse belo artista plástico chega ao lugar por conta do anúncio de um quarto na propriedade da família. A grande sacada na direção de Sachin Kundalkar é conduzir esse triângulo amoroso sem clichês e valorizando as jornadas individuais de cada personagem.
A produção ainda reserva momentos de Tanay com seu professor, que esconde sua condição em função de sua sexualidade ser um crime no país - que é apenas pincelada na narrativa, mas que em dado momento é ilustrada com uma cena tocante e dramática. A quebra de tradições e a busca sem limites pela identidade são a tônica do longa, que aqui reafirma que a cor mais quente mesmo (fazendo alusão ao filme de Abdellatif Kechiche) é a do azul cobalto.
Vale Ver!
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