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'O Homem do Norte' é o retrato visceral da arte de Robert Eggers | 2022

NOTA 10

Eu vou vingá-lo, pai. Eu vou salvá-la, mãe. Eu vou matá-lo, Fjölnir.

Por Vinicius Martins @cinemarcante 

Desde o lançamento de 'A Bruxa' (2015), o diretor Robert Eggers tem surgido nos debates cinéfilos como um nome promissor do cinema autoral, ao lado dos nomes de Ari Aster e Jordan Peele; e o que era promissor tem cada vez mais se provado o cumprir de uma arte bruta, com traços de cinema independente, que chama a atenção do grande público graças ao nível da qualidade de seus trabalhos e das múltiplas camadas e significados que tais filmes conseguem transmitir. Alçando voo rumo a uma pegada mais popular, com um caráter de cinema-vingança quase ao estilo 'Coração Valente' (1995), temos 'O Homem do Norte' com uma trama de fúria e selvageria onde um príncipe órfão traído jura vingar a morte do pai, salvar a mãe e matar o tio.


O novo trabalho de Eggers, contudo, não é um filme intelectual como os anteriores, cheio de camadas ou aberto a interpretações pós sessão; contudo, é um filme cuja abordagem explora múltiplas faces da fé e abrange um leque extenso de mitologias, indo desde a nórdica até Shakespeare, com toques de misticismo e até um aceno ao psicodélico. As locações escolhidas como cenário desse épico são belíssimas, e muito mais bem exploradas do que as também belas de
'Nomadland' e 'Eternos', ambos dirigidos por Chloe Zhao e lançados no Brasil em 2021. O trabalho primoroso de fotografia e o design de produção criam uma atmosfera crível às limitações da época, e a trilha sonora impõe toda a urgência e o temor que o roteiro (escrito por Eggers em parceria com Sjón) amplifica com passagens de violência e crueldade.

Nosso herói não é um herói. Amleth é, inicialmente, um aspirante ao reino e, após um golpe fatal dado por seu tio à coroa de seu pai, ele foge e é acolhido por guerreiros bárbaros. Amleth é selvagem, impiedoso, indiferente ao sofrimento alheio e de uma ferocidade atroz. No entanto, mesmo em meio ao caos das invasões, o roteiro consegue destacar Amleth (que assume outro nome) como alguém diferente dos demais, que abusavam com todas as formas de violência contra os povos "conquistados". Quando ele reencontra seu passado e assume um rumo de volta a ele, nota-se uma mudança total na atuação de Alexander Skarsgård, que de um valente e destemido guerreiro mortal se torna um escravo de postura curvada e insegurança no olhar - claro, para convencer seus donos (a família do tio traidor) e passar despercebido enquanto começa a maquinar sua vingança contra aqueles que lhe tiraram tudo.

'O Homem do Norte' já é facilmente um dos melhores filmes do ano, e retrata com louvores uma época onde honra e morte eram quase sinônimos. O filme não demanda conhecimentos prévios sobre os vikings ou sobre os deuses nórdicos, mas para quem conhece as mitologias (ou que tem ao menos um pouco de noção a respeito) o filme é um prato cheio de referências e rituais. Um filme que merece o prestígio de uma tela IMAX, um blockbuster com viés magistral de maldade e paixão, onde estima-se que o bem vencerá o mal e questiona-se, por fim, quem é o mal e quem é o maior prejudicado por ele. Uma obra de altíssima qualidade e um clássico do nosso tempo.


Vale Ver!




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