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'Tico e Teco: Defensores da Lei' : um multiverso de texturas, metalinguagem e... muitas referências | 2022

NOTA 8.0 

Por Maurício Stertz @outrocinéfilo 

O uso de diferentes texturas em animações já se provou eficaz. É como brincar com a forma e as limitações que vêm sendo resolvidas, pouco a pouco, pelo avanço tecnológico no Cinema. Se o traço fica mais suave, a estética muda completamente e apenas aguarda a chegada das cores como complemento. Dentro desta amplitude, a animação é permissiva para que o seu mestre (o autor) crie sem barreiras – pelo menos as de traços ou texturas.

'Tico e Teco: Defensores da Lei' corrobora com liberdade criativa em seu máximo. A animação original pertence ao seu tempo e é talvez uma das mais importantes dos anos 1990, com seus traços tradicionais à época e preenchidos pelos tons pastéis que os personagens pediam (ainda que Tico e Teco tenham sido criados antes, os Defensores da Lei foram ao ar apenas em 1989).

Entretanto, ao modernizar o traço para o filme de 2022,  um “regresso”, não um ‘remake’, como a publicidade se apurou em rotular, o longa-metragem traz o “tempo” consigo de volta ao espectador num mar de referências cabíveis à todas as idades.

A história de Tico e Teco desde o dia em que se conheceram até a entrada da dupla de esquilos investigadores em Hollywood se espreme dentro dos noventa minutos de duração. O mais interessante é que, por estarem nos bastidores da indústria, Tico e Teco conseguem algo que não poderíamos ter lá em 1989: sua empatia conquistada. Os pequenos esquilos agora têm seus arcos dramáticos (pequenos como suas estaturas), mas presentes. São atores atuando dentro de seus filmes, o que garante a ideia do ‘cidadão comum’ (ou nesse caso, ‘esquilos’).

Na direção de Akiva Schaffer, a animação é metalinguística por natureza. Ao explorar uma maior amplitude nas texturas, chegando na interação da antítese live-action x animação (pense em Space Jam), carrega um discurso sobre a indústria da animação (para separá-la de Hollywood como um todo) e os bastidores que constantemente reciclam e jogam personagens para debaixo do tapete. É por isso que ao saltar dos anos 90 para o presente, o personagem de Teco recebe sua renderização 3D, como se precisasse de uma revitalização para não se juntar aos personagens esquecidos pelos traços antiquados.

Preciso dizer que, na contramão, o filme ‘moderninho’ aproveita para fazer uma Ode a tudo que passou por todos estes anos pela indústria, parando no caminho para relembrar cada um dos personagens e a sua importância que exala, novamente, pelo traço.

Este é o ponto de partida para um Multiverso honesto, responsável por jogar o espectador de volta ao sofá da sala lá pelos anos 1980 ou 1990, e fazê-lo assistir de novo o que mais amava naquele tempo aparentemente mais simples. Como acontece comigo, pois as aventuras de Tico e Teco fizeram parte da minha infância, já bastava refrescar esta pequena memória. O que veio além? Bônus.

Caberia um texto inteiro apenas para falar de todas as referências, aparições ou menções que apelam a nostalgia. Sobrou até para o Sonic Feio (brincadeira com a primeira versão recente do porco espinho azul da Sony) ou para versões estranhamente renderizadas de personagens nos anos 2000.

O mais interessante é que o diretor mantém tudo isso de forma orgânica, afinal, as referências servem apenas de adereço à narrativa, que não depende de mais nada, se não da boa história e das reviravoltas de um roteiro atento e brincalhão, que permite trazer o que há de mais clássico e subverter em busca de novas oportunidades. Um grande acerto.

'Tico e Teco: Defensores da Lei' é maduro para tratar de todos estes assuntos e leve para divertir enquanto o faz. Quero assistir outra vez para pegar mais referências que passaram batidas. 


Vale Ver!




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