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'Contratempos' mostra os desafios de ser mãe em dias turbulentos | 2022

NOTA 9.0 

Por Rogério Machado 

Ainda durante os créditos iniciais, Julie Roy, nossa protagonista, dorme um sono pesado e barulhento, algo comum a  quem teve um dia cansativo e atribulado. A ênfase nesse momento chega a incomodar ao passo que também intriga o espectador. À medida que o longa do cineasta Eric Gravel avança, vamos desvendando a fadiga presente naquele sono através de uma história que amplifica nosso entendimento sobre a presença feminina na sociedade e o poder da mulher em administrar várias vidas dentro de uma vida só. 

Julie, (magistralmente vivida pela atriz Laure Calamy), anda de um lado para o outro e luta sozinha para criar seus dois filhos pequenos num lugarejo afastado  e manter seu emprego como camareira num hotel de luxo em Paris. Com o pai das crianças ausente, ela só consegue contar com o apoio de Madame Lusigny (Geneviève Mnich), uma vizinha que faz as vezes de babá para os pequenos. Insatisfeita com seu emprego como camareira, ela começa a busca por novas oportunidades. Quando Julie consegue uma entrevista para um cargo correspondente às suas aspirações e formação, as coisas se complicam no atual trabalho, e para piorar o quadro uma greve geral eclode paralisando o transporte e levando a cidade ao caos. Ela então embarcará em uma corrida frenética para salvar seu emprego e sua família.

Gravel, ainda em seu segundo longa metragem, demonstra habilidades de veterano na condução dessa pequena joia que nos ensina sobre sobrevivência e responsabilidades. A regência de Gravel participa o público do sofrimento diário de Julie, que faz com que acompanhemos essa trajetória com altas doses de tensão como que em suspenso, esperando a próxima intempérie do dia, sentindo na pele a impotência da personagem diante de situações tão adversas que vão se multiplicando, sequências tão bem desenhadas e potencializados por uma trilha inquieta, que traduz sobremaneira o senso de urgência que movimenta a trama. 

Laure Calamy, mais uma vez demonstra sua versatilidade, que passeia com muita propriedade e talento tanto na comédia como no drama, que é o caso de 'Contratempos', que está em cartaz atualmente no Festival de Cinema Varilux. E para além do drama pessoal, a narrativa ainda tem um fundo pautado na temática social, mostrando o descaso do poder público com a mobilidade urbana e o efeito dominó desse problema na vida de todos. 'À plein temps' (no original) é mais um exemplo da inventividade de um cinema cada vez mais social e que também entretém. 


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