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Dica do Papo : 'Riscado' | 2010

Por Rogério Machado 

Gustavo Pizzi tem alguns poucos e bons trabalhos com a então esposa Karine Teles, atriz com quem foi casado por mais de dez anos, até 2015: o sensível 'Benzinho'  e a série 'Os Últimos Dias de Gilda' estão entre os exemplos dessa parceria que se mostrou promissora desde a primeira aparição da atriz (com protagonismo, digo) em longas. 'Riscado' (2010), que chegou recentemente ao catálogo da Netflix,  era só o primeiro passo rumo ao inevitável êxito traduzido em uma carreira marcada por grande versatilidade, que compreende com exatidão o sacerdócio da arte, assim como o papel do artista na sociedade. 'Riscado', protagonizado por Teles, acredito que de certa forma seja uma crônica da própria trajetória da atriz. 

Na história conhecemos a  jovem Bianca (Teles), que está tentado conquistar seu espaço como atriz. Enquanto não encontra uma boa oportunidade, se dedica a um grupo de teatro comandado pelo amigo Oscar (Otávio Müller), e mal consegue pagar as contas com o dinheiro que recebe de uma empresa de divulgação de eventos, onde imita personalidades do cinema como Carmen Miranda, Betty Page e Marilyn Monroe. A sorte aparece quando, ao fazer teste para uma produção internacional, o diretor se encanta pela história de Bianca. Finalmente, surge a chance de construir uma sólida carreira e realizar um sonho.

Pizzi trabalha muitos subtemas na narrativa, como a situação do subemprego no Brasil ou o chamado trabalho informal, onde milhares de pessoas se sujeitam a condições de exploração, entre outras coisas bem típicas nas vielas da informalidade. Contudo, a mensagem aqui é clara: lançar luz na trajetória de uma mulher simples e o sonho de viver com sua arte de maneira digna e se realizar com isso. A composição da personagem de Karine Teles se dá  aos poucos, bem na frente do nossos olhos - é tão orgânica essa construção que parece que estamos acompanhando a vida real e cotidiana de uma carioca que batalha todos os dias nas ruas. 

É claro, que somado a genialidade de uma atriz dessa sensibilidade, estão as lentes inquietas de Pizzi, que captam de forma cirúrgica essa profusão de cores e emoções efusivas e melancólicas que rodeiam a existência de Bianca. Aparte todo lirismo e poesia, também presentes na produção, está uma realidade que se agiganta a cada ano que passa: a falta de apoio ao movimento artístico e a ausência de incentivo por parte das autoridades. 

Para finalizar, acho oportuno trazer à memória uma fala da atriz Julia Lemmertz que viralizou ao pedir a derrubada do veto do atual presidente para as leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, ambas de incentivo à cultura: "A cultura é um bem para todos, seja lá o partido que você for. Você consome cultura ao ouvir musica, ler livro, quando vai ao teatro, você consome cultura sempre. É muito triste a gente morar num país onde o que deveria ser mais cuidado e mais acarinhado... porque, na verdade, a cultura é o que consola, é que dá sentido às misérias da vida, é que faz a gente pensar. Você sai de uma sessão cultural transformado." 

Por mais Biancas , por mais cultura, por mais arte, por mais sonhos.



 

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