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'Jurassic World: Domínio' explora debates metafísicos com ação acelerada em aventura contemplativa | 2022

NOTA  9.0

Uma carta de amor aos fãs

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Em uma entrevista, entre os lançamentos de 'Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros' (2015) e 'Jurassic World: Reino Ameaçado' (2018), o roteirista Colin Trevorrow (que dirigiu o primeiro e o terceiro capítulo dessa nova trilogia) afirmou que desde sempre havia um propósito no título, que trocava o "Park" pelo "World", e apresentou o intuito de explorar a maneira como a sociedade atual e os dinossauros iriam interagir se fossem colocados lado a lado. O filme de 2018, dirigido por J. A. Bayona, se fecha com um vislumbre de como seria ver essa disputa no filme seguinte, com uma promessa de caos em meio a liberdade dos animais. Para o terceiro filme, Trevorrow preparou um evento especial para os fãs que não se limita a saudosismo e fan services.

Se em 'Jurassic World: Reino Ameaçado' já existia um debate ético sobre o dilema acerca do retorno dos dinossauros à vida, aqui o que cresce é uma linha sutil de questionamentos existencialistas que, no olhar de quem conhece a obra original literária de Michael Crichton, é o que verdadeiramente define o caráter da ideia proposta mais de trinta anos atrás. Conceitos novos são apresentados, como o mercado paralelo de híbridos e o comércio e exploração dos dinossauros como entretenimento ilegal, expondo uma face até agora não vista na franquia. Embora lembre de certo modo a sequência do cassino em 'Star Wars: Os Últimos Jedi' (2017), é mais justo colocar 'Domínio' em paralelo com o episódio IX da franquia estelar, 'Star Wars: A Ascensão Skywalker' (2019), pelo simples fato de que em ambos há um ritmo frenético de ação, colocando situações na tela como se fossem fases de um jogo a serem passadas até chegar no que realmente importa; contudo, destaco que aqui, ao contrário do filme dirigido por J. J. Abrams, essa correria não soou mecânica e nem tampouco destoante com o conjunto da franquia. A corrida pela sobrevivência é um dos traços fundamentais dos filmes Jurassic, e aqui isso é elevado a uma potência superior. Claro, há conveniências extravagantes no roteiro, coincidências que exigem um pouco mais da nossa suspensão de descrença e chegam a beirar o ridículo às vezes, mas estamos falando de um filme que tem dinossauros em pleno século XXI, então extravagâncias acabam sendo perdoáveis.

Todos os personagens, desde os mais novos até os clássicos, do filme lançado em 1993, tem uma chance de redenção em pelo menos um aspecto durante o filme. Laura Dern, Sam Neill e Jeff Goldblum retornam aos papéis que os alçaram ao estrelato, e encontram aqui um desfecho respeitoso aos seus respectivos personagens. O Ian Malcolm de Goldblum, em especial, cresce em consciência de modo a transcender os dogmas que o personagem sempre teve, mas o roteiro é habilidoso em evitar que isso o faça cair em uma contradição ideológica. Dentre as adições do elenco, não há nome que se destaque mais do que o de DeWanda Wise, que magistralmente toma as cenas para si e se mostra uma das mais cativantes e curiosas figuras de toda a franquia, mesmo sendo uma coadjuvante que entra em cena quase ao meio do tempo de rodagem do filme. O terceiro ato cumpre a cartilha de forma quase automática, isto é, sem necessidade nenhuma de um grande embate entre gigantes carnívoros - desse modo, a cena parece ser apenas um aceno aos fãs, como uma despedida berrante e cheia de dentes, mas entende-se o carinho que há por trás dela. 

Com diálogos metalinguísticos e cenas onde a metafísica é colocada em evidência com o questionamento da própria existência, 'Jurassic World: Domínio' é para aquecer o coração de quem ama os filmes antigos e cresceu com eles, e Colin Trevorrow, como o bom fã que é, fez um ótimo serviço e entregou uma carta de amor completa, feita de fã para fã.


Super Vale Ver!



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