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'Pulp Fiction – Tempo de Violência': Visceral e cheio de estilo, obra-prima de Tarantino é a definição de um jovem clássico

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica

Em um dos momentos de maior destaque da 94ª cerimônia do Oscar, eis que surgem no palco ninguém menos que John Travolta, Samuel L. Jackson e Uma Thurman, dando início a entrega do prêmio de melhor ator e uma homenagem a um dos melhores filmes dos anos 90. A passagem foi breve, apenas algumas frases icônicas, a famosa dança e a lendária maleta de conteúdo misterioso, sutilezas que só evidenciam o tamanho de 'Pulp Fiction', seja no cenário cinematográfico mundial ou no imaginário popular.

Lançado em 1994, dirigido e roteirizado por Quentin Tarantino, ‘Pulp Fiction – Tempo de Violência’ foi um fenômeno de crítica e público. Com um orçamento de míseros US$ 8 milhões, arrecadou cerca de US$ 213 milhões, sendo no ano seguinte indicado a 7 categorias no Oscar, tendo vencido o de Roteiro Adaptado além de conquistar a Palma de Ouro no tradicional festival de Cannes. Mesmo com o sucesso instantâneo e o merecido reconhecimento na época, a importância do longa para o cinema só ficou mais evidente com o passar dos anos, influenciando as gerações seguintes, grande parte graças aos traços incrivelmente autorais de seu criador e um estilo que o acompanharia por toda carreira, características essas dignas de um realizador cuja paixão pela sétima arte e autodidatismo o tornaram um gigante da indústria do entretenimento.

Na trama acompanhamos 4 histórias independentes que dialogam entre si em estrutura narrativa não-linear. Cada uma contendo introdução, desenvolvimento e conclusão, dando aos personagens diferentes encaminhamentos que se complementam e entrelaçam até culminar num arco de redenção ou transformação do ponto de vista moral. Não importa se o momento de virada é um suposto milagre, um inimigo em comum, uma experiência de quase morte ou um assalto mal-sucedido, a obra nos conduz a essa travessia nos imergindo em uma proposta visual extremamente estilizada e de muito significado em meio a banalidades, tudo isso acompanhado da antológica e diversificada trilha sonora e o primoroso trabalho de edição de Sally Menke, parceira de longa data do cineasta.

O elenco é um show à parte. John Travolta (indicado a melhor ator) interpreta Vincent e retorna de forma grandiosa após ver a carreira derrapar nos anos 80, já Samuel L. Jackson (indicado a melhor ator coadjuvante) dá vida ao imponente Jules, na melhor atuação de sua vida até então. Para a jovem Uma Thruman (indicada a melhor atriz) sua performance como a femme fatale Mia, representou um ponto de partida, uma vez que até o momento havia participado de produções de ruins para medianas, amargando inclusive uma indicação ao Framboesa de Ouro no ano anterior. Bruce Willis também empresta seu carisma e já reconhecido talento em interpretar ele mesmo compondo um personagem que para muitos protagoniza o melhor dos arcos e, embora essa opinião seja questionável, a história do relógio é sem dúvida a mais hilária de todo o filme. Tim Roth, Harvey Keitel, Amanda Plummer e Christopher Walken têm participações menores, mas o suficiente para acrescentar em perfeita sintonia essa reunião de grandes astros onde todos tiveram chance de brilhar.

Em suma, como falar de Tarantino e não mencionar os diálogos? Provavelmente seu maior atributo e principal marca como grande escritor que é. Alinhado com a realidade do homem comum, as interações “tarantinescas” nem sempre são dotadas de propósito e por vezes não tem qualquer conexão com a problemática central, o que de forma paradoxal, tal artifício dá camadas e autenticidade aos personagens, tornando-os complexos dentro da realidade cotidiana, criando uma verborragia que conecta o espectador e facilita a empatia, por mais odiosos que cada um possa parecer.

O universo “Tarantinesco” hoje é amplamente conhecido e difundido, em especial no meio cinéfilo, onde é cultuado quase como um subgênero independente. De autoralidade rara e estilo de fácil identificação, Tarantino já em início de carreira se consolida como uma das principais mentes criativas do seu tempo e muito embora não seja ele o precursor das ferramentas que utiliza, a familiaridade com que trafega pelas diversas possibilidades que o audiovisual oferece deixa claro a razão de sua posição de destaque entre os pares. Lembrar de 'Pulp Fiction' como seu melhor trabalho está longe de ser um consenso, mas foi um divisor de águas para uma trajetória de sucesso e um marco para a história do cinema.


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