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'Querido Evan Hansen' : um grande equívoco transformado em musical | 2021

NOTA 5.0

Por Rogério Machado 

Dentre os mais variados temas abordados pelas lentes de um cineasta, seja ele veterano ou iniciante, as consequências da invisibilidade ou da depressão sempre irão figurar entre os assuntos mais espinhentos a serem colocados debaixo dos holofotes de uma produção. 'As Vantagens de Ser Invisível' (2012) ou mesmo 'Garota, Interrompida' (1999) passeiam pelas veredas da depressão e do suicídio em narrativas existencialistas e por sua vez carregadas de muito drama e também respeito pelo assunto em questão.

'Querido Evan Hansen' que passou meteoricamente pelas salas brasileiras no fim de 2021 e está disponível on demand, é uma adaptação de um musical da Broadway que aposta em um estranho mix que passa por um viés social com canções motivacionais, mas que, pelo menos em seu enquadramento cinematográfico, se desencontra em diversos trechos ao longo do caminho pelo destoar do tema - naturalmente pesado - com a vibração requerida em um musical. 

Na história conheceremos o tímido Evan Hansen (Ben Platt), um adolescente que está no último ano do ensino médio. O rapaz diariamente enfrenta muitas dificuldades  com seu transtorno de ansiedade social, tentando superar inúmeros obstáculos para se enquadrar na sociedade e ser aceito como ele é. O menino foi abandonado pelo pai e tem uma mãe ausente (Julianne Moore), que para manter Evan na escola precisa acumular plantões no hospital onde trabalha. Quando Connor Murphy (Colton Ryan), um colega de classe, comete suicídio pouco tempo depois dos dois terem se esbarrado na área de convivência do colégio, Evan é levado por um turbilhão de sentimentos que vai fazer com que ele entre em uma jornada de autoaceitação e empurrado numa corrente de descobertas as quais ele não terá domínio algum. 

A partir de uma carta escrita por Evan e da descoberta dela por Connor, a trama se constrói em cima de um grande equívoco que vai tomando proporções gigantescas que vão comprometendo ainda mais os sentimentos de Evan e redirecionando sua trajetória, mas não necessariamente para o lado da redenção. Talvez seja essa uma das grandes falhas da produção: ostentar um protagonista fraco, mas feito para representar um assunto sério, e que ao invés de servir de apelo contra um problema social gravíssimo, acaba deixando o discurso em segundo plano quando esse deveria ser vociferado (ou cantado), mostrando caminhos de cura e possibilidades de escape. 

'Querido Evan Hansen' tem raros momentos que deveriam ser destacados e canções que não grudam na cabeça. Mesmo grandes atrizes como Julianne Moore e Amy Adams (que vive a mãe de Connor na trama) ficam reduzidas a sequências constrangedoras e sem brilho. O desfecho é ainda mais frustrante, ainda mais para um fã de musicais como esse que vos escreve. O suicídio deveria ter sido tratado com mais responsabilidade, seja em texto falado ou cantado. 


Nem Vale Ver!



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