'Agente Oculto' : o blockbuster moderno e milionário nas mãos dos Irmãos Russo | 2022
NOTA 6.5
Por Maurício Stertz @outrocinéflo
Estamos em tempos que blockbusters modernos abocanham a cada ano uma beirada maior do orçamento das grandes produtoras, que apostam suas fichas e torcem para que o custo, de alguma forma, vire sinônimo de qualidade ou sucesso capazes de recuperar o investido para, rapidamente, alocá-lo noutro projeto, mais fresco e com outros atores que detêm um fenomenal marketing natural. É o caso da Netflix, que encabeça o projeto 'Agente Oculto' como seu filme mais caro já produzido, cerca de 200 milhões de dólares, ultrapassando 'Alerta Vermelho', lançado em 2021. Mas saber das cifras não é o estopim para que as expectativas coletivas possam prejudicar o “consumidor” casual? Afinal, o dinheiro precisa ser bem gasto perante os novos fiscalizadores (nós).
Esta informação extra fílmica não deve servir de parâmetro, basta o filme ser bom, não é mesmo? Ainda assim, o montante que assusta nesta conta transparece nas características técnicas, como era de se esperar: explosões, destruições de patrimônio público, cenas bem coreografadas e muitas tomadas aéreas, operadas geralmente por drones. E, antes que me esqueça, como dizem hoje em dia, um 'elenco de milhões', com Ryan Gosling, Chris Evans, Ana de Armas e até o brasileiro Wagner Moura (com uma ponta), completam a conta que chega à mesa e assusta.
A premissa trilha pelo caminho mais seguro dos filmes de espionagem. Seis, um talentoso e bem treinado agente, interpretado por Ryan Gosling, descobre segredos dentro da CIA em um dos seus trabalhos. Com as provas em mãos, precisa sobreviver a uma caçada humana liderada por Llyod Hansen, um agente menos convencional, interpretado por Chris Evans.
Apesar da simplicidade que o roteiro propõe, os Irmãos Russo, responsáveis pelos heroicos 'Vingadores: Guerra Infinita' (2018) e 'Vingadores: Ultimato' (2019) na Marvel, recebem nas mãos todas as condições para um filme grandioso e definitivamente o fazem. A qualidade técnica é o carro chefe dessa direção dupla, que faz questão de destruir cidades, explodir coisas e não poupar em munições. O ritmo frenético nas duas horas de duração, porém, não encontra freios para desenvolver qualquer peso dramático aos seus personagens, que não ganharam importância o bastante para que eu pudesse me preocupar.
A opção nesta trama de espionagem é pelo embate corpo a corpo dos comandados ao invés da politicagem larápia dos comandantes, que pouco expõem suas motivações detrás de computadores e salas de reuniões. Ryan Reynolds, por sinal, volta a interpretar um agente sangue frio com déficit de expressões, algo parecido com o que fez em 'Blade Runner 2049' (2019) e que eu particularmente gosto.
Não fosse o vai-e-vem entre países que causam vertigem e descolam a atenção pela confusão do tempo linear, 'Agente Oculto' talvez pudesse tensionar mais o clima quando fosse desferir seu punch final: uma luta no clímax das duas grandes forças da agência que havia apresentado, Seis e Llyod.
Em suma, fica claro que o lado técnico dessa engrenagem anda desacompanhado por toda a narrativa. É apenas a técnica como fim, onde o apelo visual é o grande trunfo dos irmãos Russo, com um espetáculo destrutivo que, não poderia negar, performa muito bem naquilo que se propõe – a cena no avião é um primor técnico.
E se a famigerada fórmula Marvel (da qual os Russo fizeram parte) é criticada por envelopar seus filmes e deixá-los padronizados sob uma mão pesada do estúdio, a Netflix parece seguir o mesmo caminho. Com a padronização do gosto e do público, reciclando tudo que deu certo há 1 ano atrás, em 'Alerta Vermelho'. É assim que um filme “entretenimento” se parece atualmente, um blockbuster moderno que abre as portas para que mais dos “seus” possam surgir debaixo do guarda-chuva avermelhado. Veremos.
Vale Ver Mas Nem Tanto!
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