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'Os Primeiros Soldados' e o medo do desconhecido no surgimento da AIDS nos anos oitenta | 2022

NOTA 9.0

Por Rogério Machado

Os anos 80 foram emblemáticos na cultura e no comportamento, mas junto com toda a liberdade de uma época altamente revolucionária, já introduzida no final dos anos 70, surgiu também uma epidemia que era considerada uma sentença de morte e por muitos  chamada de peste gay. Na ocasião nada se sabia sobre a AIDS, muito menos sobre a cura. Para além do preconceito de gênero, a desinformação acerca da doença gerou grande segregação de algumas comunidades, sobretudo a comunidade gay. 

Sob a direção de Rodrigo de Oliveira ('Todos os Paulos do Mundo'-2018) 'Os Primeiros Soldados', assim como tantas produções gringas que já abordaram o assunto, trata do impacto da doença em terra brasileiras; e o faz com uma sensibilidade ímpar, retratando o momento sem sensacionalismos ao lançar luz no microcosmo de uma família desprendida de preconceitos. Oliveira é feliz sobretudo pela maneira como escolhe trazer sua história até nós - seja pelo formato não linear ou pelo cuidado em introduzir todas as partes envolvidas nesse quebra cabeças que se complementa à partir do mistério acerca da vida do protagonista vivido por Johnny Massaro. 'Os Primeiros Soldados' é pungente mas ao mesmo tempo sabe da responsabilidade que é manusear um assunto ainda delicado, mesmo nos dias de hoje, quando já temos informações suficientes sobre do que se trata o HIV. 

Estamos no Réveillon de 1983. Suzano (Massaro)  depois de um tempo na França, volta para a casa de sua família, em Vitória, no Espírito Santo, onde mora sua irmã, Maura (Clara Choveaux) e seu sobrinho, Muriel (Alex Bonin). Ele sonha com uma espécie de recomeço, mas já consciente que algo terrível está acontecendo em seu corpo. Enquanto isso, um grupo de jovens LGBTQIA+ comemoram a virada do ano ainda sem noção do que se aproxima. Apesar da enorme falta de informação sobre suas condições, Suzano se junta a Rose (Renata Carvalho) e Humberto (Vitor Camilo), igualmente doentes, em uma tentativa de sobrevivência e para nutrir esperanças de um futuro melhor.

'Os Primeiros Soldados', que está em cartaz nos cinemas,  é um retrato repleto de afeto daqueles que viveram a primeira onda de AIDS no Brasil, em uma história de enfrentamento e acolhimento coletivo contada com muito vigor  por Rodrigo de Oliveira, que se debruçou em cima de muita pesquisa, não só para ser fiel acerca dessa novidade assustadora que começava a pegar jovens LGBTQIA+ de surpresa, assim como na revisitação dessa década na Vitória dos anos 80. Efeitos práticos, como a fotografia de aspecto granulado por exemplo, são detalhes que enriquecem a representação daquele tempo.  

O paralelo dessas figuras com soldados em guerra é um jeito potente e lúdico de retratar essa batalha diária, travada muito mais pelo preconceito do que pela doença em si... e essa guerra está longe de ter  um fim. 


Super Vale Ver!



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