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'Persuasão' : Dakota Johnson é destaque em adaptação pouco inspirada do clássico de Jane Austen | 2022

NOTA 4.0 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

O que é uma boa adaptação? A influência da literatura na construção da linguagem cinematográfica é e sempre foi tema recorrente desde os movimentos de vanguarda até os dias atuais. O tema é complexo, porém na tentativa de simplificar (se é que é possível), uma frase da teórica Linda Hutcheon é didática quando diz: “a arte é derivada de outra arte; histórias nascem de outras histórias”. Dito isso, pensar o livro e o filme como concorrentes é quase tão absurdo quanto considerar essa relação passiva de comparação. Diferente do senso comum, a substituição das palavras pela linguagem da câmera tem muito pouco a ver com fidelidade ao material base, mas sobretudo um respeito a sua essência, podendo desta maneira as imagens retratarem épocas e elementos completamente diferentes e ao mesmo tempo preservar o conteúdo da obra adaptada. A título de exemplo, Shakespeare já foi trazido para a contemporaneidade de forma brilhante em 'Romeu + Julieta' dado a atemporalidade de seu trabalho. Outra grande figura clássica que Hollywood adora revisar é Jane Austen, que dessa vez ganha uma nova versão original Netflix focada no público mais jovem, entretanto, a tentativa de simplificação resultou no total esvaziamento da protagonista, complexa nos livros e aqui reduzida a uma mulher comum e por vezes infantilizada, restando a talentosa Dakota Johnson essa difícil tarefa, vez ou outra cumprida com algum sucesso.

Na trama acompanhamos Anne Elliot (Dakota Johnson), uma vez apaixonada pelo marinheiro Frederick Wentworth (Cosmo Jarvis) e persuadida pela família, precisou abandonar seu sonho e recusar o matrimônio devido a condição financeira de Frederick. Passados oito anos, o oficial retorna com reputação e um importante título de capitão. Mesmo preservando sentimentos, ambos precisarão lidar com seus ressentimentos além da cobiça das jovens solteiras da cidade.

Visualmente chamativo no melhor dos sentidos, ‘Persuasão’ tem nos figurinos e design de produção um inegável capricho e apuro técnico em todos os detalhes, qualidade essa que acrescida de uma trilha sonora agradável, mantém a atmosfera leve e fluida durante toda a projeção. Destaque também para a diversidade do elenco, que não apenas atualiza a obra como o faz de maneira perfeitamente natural. Contudo, se essa tentativa de modernização começa com o pé direito, a frustração vem logo após a primeira palavra já que a primeira “vitima” da simplificação narrativa é justamente a linguagem. Passagens inteiras são reduzidas a falas que subestimam a inteligência do público, piorando ainda mais quando se utiliza da quebra da 4ª parede, aproveita tal artificio para explicar acontecimentos e até descrever sentimentos da maneira mais preguiçosa e superficial possível.

O elenco é pouco inspirado, para dizer o mínimo, exceto Dakota Johnson que empresta todo seu charme e carisma a uma personagem cuja construção não a beneficia, ainda assim o resultado final é satisfatório e mostra novamente a escalada na carreira da atriz e todo seu potencial.

O despertar do interesse pelo material original e o direcionamento de toda uma nova geração para importantes obras do passado é, talvez, uma das melhores contribuições que uma adaptação pode fazer. Todavia, se levarmos em consideração que essa iniciação seja tão divergente das raízes, o resultado pode ser o oposto, afastando esse público e causando estranheza. ‘Persuasão’ nada tem de Jane Austen, mulher essa à frente do seu tempo, dona de um trabalho que questiona estruturas sociais e abomina toda estupidez atribuída ao feminino, méritos esses que a nova produção Netflix passa bem longe.


Nem Vale Ver!






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