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'Blue Bayou': filme entrega trama madura e faz denuncia polêmica | 2022

NOTA 8.0

Por Rogério Machado 

Em 'Blue Bayou', que chega ao Brasil pelo Festival do Rio no Telecine, o elemento água é recorrente durante a projeção. Todos sabemos que água está diretamente ligada a vida: águas lavam, transformam e renovam, e esse simbolismo é  elegantemente usado para narrar uma história de amor e pertencimento. O título original inclusive faz menção a um Riacho que  dá nome a uma canção entoada pela estrela do longa, Alicia Vikander, que diga-se de passagem, revela ter uma bela voz.  


Na história conheceremos Antonio Leblanc (Justin Chon), um estrangeiro que mora em Nova Orleans há mais de 30 anos. É casado, tem uma filha adotiva e a esposa, Kathy (Vikander), está grávida de mais uma menina. Leblanc teve passagens na polícia e por isso passa por dificuldades para arrumar emprego. O agravante é que Kathy tem um ex marido que busca um relacionamento mais próximo com a filha, mas sente que Leblanc representa um empecilho para isso. Depois de uma recaída Leblanc é pego, e ainda assim o sul-coreano corre risco de ser deportado mesmo que tenha sido adotado aos três anos de idade por um casal estadunidense, o que o fez crer durante toda uma vida estar legal no país.

O drama desnuda um assunto sério: a deportação de imigrantes que teriam sido adotados, e portanto, adquiriram o mesmo direito que cidadãos americanos tem de conquistar seu espaço na América. Revela-se assim mais uma fenda, uma ferida profunda no American Dream, que diz que todos são dignos de conquistar a terra através do trabalho, independente da classe social ou das circunstâncias do nascimento. A direção de Justin Chon (nessa dobradinha entre atuar e dirigir a trama) tem alta sensibilidade, até porque Chon tem ascendência coreana e leva na pele as marcas dos efeitos da xenofobia. 

E é esse fantasma da xenofobia, que paira sobre toda projeção, é que é a força motriz do longa que, ainda que alinhavado pelo drama, se estabelece mesmo pela iminência do perigo da captura, até pelo comportamento arredio de Leblanc, que começa a ficar acuado à  medida que o cerco se fecha ao redor dele. 

Para além de toda mensagem de cunho social e da crítica aos processos falhos da imigração nos E.U.A, está a fineza da condução sóbria e madura de um ator/diretor que apesar da pouca experiência por trás das câmeras, eleva sua obra ao nível dos grandes realizadores. 'Blue Bayou' (sem título nacional) é tocante, mas tem relevância e é incisivo no discurso. Por mais títulos como esse, que misturam a fantasia da ficção com a realidade nua e crua sobre um país que ainda tem muito por se redimir e também mudar. 




Vale Ver!





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