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'O Telefone Preto': novo filme do diretor de "A Entidade" vai do horror cotidiano ao sobrenatural em narrativa aterradora | 2022

NOTA 7.5

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Adaptado do conto homônimo escrito por Joe Hill, ‘O Telefone Preto’ marca o retorno de Scott Derrickson ao terror, gênero que o alçou à fama após dirigir em 2005 o ótimo ‘O Exorcismo de Emily Rose’ e em 2012, com apenas 3 milhões de dólares, arrecadou mais de 80 milhões com o surpreendente ‘A Entidade’. Após chamar a atenção de Hollywood, esteve à frente de projetos de maior visibilidade, como o primeiro ‘Dr. Estranho’, entretanto, mesmo com o sucesso na primeira colaboração junto aos estúdios Marvel, se afastou da sequência por divergências criativas, dando lugar a Sam Raimi. Agora, se voltando uma vez mais as origens sombrias e repetindo a já bem sucedida parceria com Ethan Hawke, Derrickson entrega o “menor” e mais bem acabado dos seus trabalhos.

A trama se passa no final da década de 70 e acompanhamos Finney Shaw (Mason Thames), um jovem morador do subúrbio de Denver onde uma série de desaparecimentos vem ocorrendo. Após alguns meninos de idades semelhantes serem sequestrados, Finney se torna a nova vítima do “The Grabbler” (Ethan Hawke) e se vendo sozinho e isolado, encontrará no misterioso telefone preto sua única chance de sobreviver.

Algumas semelhanças com histórias de Stephen King não são por acaso, afinal, Joe Hill é filho de King e muitos paralelos são facilmente identificados pelos fãs do escritor, inclusive elementos que lembram clássicos conhecidos como ‘IT’ e ‘Conta Comigo’. Contudo, longe de soar como cópia barata, Joe possui traços bem próprios, traços esses muito bem adaptados por Derrickson onde ele não só expande a mitologia como dá direcionamento e sentido narrativo aos símbolos presentes no conto, comunicando cada um deles com a estrutura proposta, entregando um conteúdo bastante original e ao mesmo tempo respeitando o texto base. Ainda sobre símbolos, as máscaras tem grande destaque e estão diretamente ligadas as ações do antagonista, interpretado por Ethan Hawke que, apesar de subaproveitado, entrega uma performance memorável. E não há como não mencionar o telefone que dá título ao filme, objeto crucial na introdução do elemento fantástico e tão importante no desfecho, que é previsível, mas desenvolve um clímax capaz de manter a tensão.

O núcleo central é composto por personagens infanto-juvenis, entretanto, diferente das obras das quais 'O Telefone Preto' bebe da fonte, como o já citado “IT”, a forma com que as crianças encaram a problemática e o peso dos acontecimentos soam inverossímeis tamanha a maturidade e ações calculadas de cada uma delas; com isso as atuações de Mason Thames, como Finney e Madeleine McGraw, como Gwen, embora ótimas em desempenho, não parecem genuínas, tornando implausíveis as relações de causa e consequência.

A ambientação setentista convence, e as transições entre passado e presente são bem articuladas, se diferenciando a partir de uma mudança na paleta de cores, mais uma vez usando um artifício obvio, porém, mais uma vez, muito bem empregado. Em suma, o filme se mantém numa posição segura, se fazendo valer do básico na maior parte do tempo, todavia essa simplicidade é tão bem executada de modo a nunca cair no ingênuo. O trajeto, do ponto de partida até sua conclusão, é familiar e satisfatório, provando que nem sempre é preciso “sair da caixa”, uma vez que dentro dela haja conteúdo. Se você, público fiel e fã do diretor, ajustar um pouquinho as expectativas é provável que a satisfação esteja mais do que garantida.


Vale Ver!




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