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'O Próximo Passo' é trajetória de superação com refinado humor | 2022

NOTA 8.5

Por Rogério Machado 

Dentro do universo do Ballet Clássico não é incomum vermos personagens femininas de destaque, heroínas românticas que têm suas trajetórias pautadas em grandes tragédias. Um exemplo muito popular, mesmo para aqueles que não conhecem nada dessa arte, é  'O Lago do Cisnes', uma das peças mais marcantes do ballet mundial que estreou em 1877 com a coreografia elaborada por Julius Reisinger a partir de uma composição encomendada a Tchaikovsky.  A peça conta a história da princesa Odette, uma jovem aprisionada no corpo de um cisne pelo feiticeiro Von Rothbart. Vivendo no entorno de um lago formado pelas lágrimas de sua mãe, durante o dia, Odette se mantém em condição animal, se revelando humana somente por algumas horas da noite. Para se libertar dessa condição, ela precisa que um jovem admirador virgem lhe declare amor e fidelidade. E, caso seja traída, Odette permanecerá para sempre como cisne.

Sob a direção do Veterano Cédric Klapisch ('O Enigma Chinês' - 2013), 'O Próximo Passo', um dos filmes mais vistos na França esse ano, replica a tradição ao fazer da figura feminina um corpo que sofre sob os holofotes. Contudo, a apelo dramático imprimido nos clássicos do Ballet, aqui é quebrado por uma narrativa leve e bem humorada.  


O longa acompanha Elise (Marion Barbeau), uma bailarina de 26 anos que é destaque na companhia onde dança. Um dia, no meio de uma importante apresentação, ela se machuca logo após flagrar seu namorado aos beijos com outra bailarina. Mais tarde ela descobre que não poderá mais dançar e é a partir daí que sua vida será virada de cabeça para baixo. Elise terá que aprender a se reinventar e isso se dá entre Paris e Bretanha, de acordo com encontros e experiências, decepções e esperanças, ela se vai se aproximar de uma companhia de dança contemporânea. 

Esta nova forma de dançar, assim como a descoberta de uma traição, vai permitir-lhe encontrar um novo impulso e também um novo modo de viver sua vida. Ao contrário do que vemos em narrativas do gênero, Cédric promove uma desconstrução no ritmo da trama, onde no percurso da protagonista, mesmo com um passado de dor por uma perda ainda na adolescência, iremos encontrar sorrisos e ânsia por aprendizado, ao invés de tristeza e clausura. 

Sim, o drama está intrínseco no contexto mas ele não toma conta nem da personagem de Elise, muito menos dos ares de 'En Corps' (no original). A roupagem que Marion Barbeau dá a Elise é frágil e tem certo ar de timidez, mas o o sorriso no rosto está sempre ali, e suas iniciativas em não estagnar são constantes. Acompanhado por um elenco carismático e que embarca no tom solar da produção, o cineasta nos convida a acreditar junto com a personagem em não concentrar mais força que o necessário em pensamentos que nos desviam do foco. Ao conduzir seu filme dessa forma, Cédric também mostra que na vida real é possível optar pela escolha de ser feliz ao invés de se apegar ao que nos seca por dentro. Se reinventar não só é escolher viver, é também escolher viver melhor. 



Vale Ver!


Tags : Festival Varilux de Cinema Francês , Varilux,  Cédric Klapisch 


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