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'A Viagem de Pedro': Laís Bodanzky apresenta uma versão sombria do Primeiro Imperador do Brasil | 2022

NOTA 8.5

Por Rogério Machado 

A cineasta, produtora e roteirista Laís Bodanzky é conhecida pelo peso com que aborda propostas dentro de sua promissora cinematografia. 'Bicho de Sete Cabeças' (2001) e 'Como Nossos Pais' (2017) podem comprovar o potencial dramático de suas obras quando se dispõe a colocar seu cinema para conversar com o público sobre temas sociais de diversas vertentes. Em 'A Viagem de Pedro', que chega essa semana aos cinemas, Bodanzky se aventura em uma roupagem de época para mostrar a 'História nunca contada' de D. Pedro I, o Primeiro Imperador do país, que, reza a lenda, era adorado por aqui e considerado vergonha nacional em Portugal.

O ano é 1831, e Pedro (Cauã Reymond), ex imperador do Brasil, busca forças físicas e emocionais para enfrentar seu irmão, Dom Miguel (Isac Graça) que usurpou seu trono em Portugal. A trama se passa no Oceano Atlântico, a bordo de uma fragata inglesa na qual se misturam membros da corte, oficiais, serviçais e escravizados, numa babel de línguas e de posições sociais. Pedro se vê doente e inseguro. Entra na embarcação em busca de um lugar e uma pátria.. e mais do que isso, ele está ali a procura de si próprio.  

O recorte citado como lacuna histórica nos introduz a um Dom Pedro frágil, emocionalmente confuso, com mania de perseguição, promíscuo e acometido por doenças venéreas. O tom soturno dessa figura tantas vezes representada como herói assim como a história nos mostra nos livros, é potencializado pela fotografia de Pedro J. Márquez - que usa lentes antigas a fim de evitar que as imagens fossem demasiadamente perfeitas - carregada em tons escuros e muitas cenas noturnas que refletem o estado emocional daquele homem, que ainda tinha ataques de epilepsia e era confrontado pela esposa Maria Leopoldina (Luise Heyer), por conta dos rumores de seu caso tórrido com Domitila (Rita Wainer).

A desconstrução, tanto da pessoa de Pedro como na trajetória desse herói nacional, é explorada com maestria por Bodanzky, que tem olho clínico para traduzir o caos. E é a mente atormentada do ex-imperador a ser destrinchada diante do público, com o aparato de uma performance irrepreensível de Reymond, que a cada trabalho prova ser um ator de altíssimo nível. Aliás, todo o elenco, com atores de diversas nacionalidades, contribui sobremaneira para a proposta multifacetada da cineasta, que reside no filme de época mas bebe em diversas fontes cinematográficas, e flerta inclusive com o suspense psicológico. 

No ano em que o Brasil comemora o bicentenário da Independência e recebe o coração de D. Pedro para relembrar a data, 'A Viagem de Pedro' chega em circuito num momento muito oportuno e nos faz lembrar que heróis não existem e que todo homem tem seus fantasmas. 


Vale Ver!



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