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“Árvores da Paz” é uma forte história de sobrevivência em meio ao caos | 2022

NOTA 7.0

Por  Karina Massud @cinemassud 

Como se não bastasse ser assolado pela seca, miséria e fome, o continente Africano sempre foi devastado por governos tiranos e guerras civis sanguinárias que ainda dizimam milhões de pessoas. E o curioso é que esses genocídios se banalizaram tanto que parecem não causar comoção global, como por exemplo causa o genocídio que tem acontecido na guerra entre Ucrânia e Rússia, talvez por ser um lugar de Terceiro Mundo sem expressão na política internacional – fato que potencializa ainda mais tanta tristeza.

No ano de 1994, e tendo como gatilho a morte do presidente da etnia Hutu, aconteceu em Ruanda um dos extermínios mais chocantes da história: Hutus estuprando, agredindo e matando os Tutsis, tudo pelo simples ódio contra outra etnia que eles consideravam inferior. Mais de um milhão de Tutsis foram assassinados em três meses.

Durante esse conflito, quatro mulheres conseguem esconderijo no subsolo da casa de uma delas, mulheres com diferentes histórias de vida: uma hutu grávida, uma freira, uma voluntária americana branca e uma tutsi. Em quase 80 dias de desespero, fome e sede, elas se apoiam mutuamente para sobreviver, criando um elo tão forte quanto duradouro, que só quem passou por situações extremas alcança. Essa é a bela história contada em “Árvores da Paz”, longa escrito e dirigido por Alanna Brown e distribuído pela Netflix.

O filme tem uma cadência angustiante, onde a claustrofobia e a insegurança dessas mulheres são vividas na mesma intensidade pelo espectador. O espaço é tão pequeno que elas mal conseguem ficar de joelhos, ninguém sabe quando a guerra irá acabar, ou se o marido de uma delas ainda está vivo pra abrir o alçapão e jogar um pouco de comida para que não morram de inanição. Durante esse período elas são levadas a questionamentos profundos sobre suas crenças e  sobre vida e morte, num sofrimento atroz e resiliência que não tem fim. Conhecemos a origem da violência étnica, que foi encorajada por colonizadores belgas a partir de 1900 e resultou em tanto ódio e ressentimento do povo contra o povo. As protagonistas se confortam e aprendem umas com as outras brincadeiras, línguas e principalmente a cultivar a sororidade numa sociedade esmagada pelo patriarcado.

A trama tem uma duração de 1h38min na medida, pois o roteiro de drama psicológico, apesar de envolvente, não daria margem pra uma boa produção de 2 horas por ser apenas dentro de um cubículo. As atuações são marcantes e a trama emociona sem ser apelativa; assim como no filme “Hotel Ruanda” (2004), que também narra uma trajetória de sobrevivência nesse mesmo período. São enredos pesados mas necessários, pois talvez sirvam de alerta para outras nações.

O título “Árvores da Paz” nos remete às mulheres sobreviventes do massacre, que anos mais tarde se tornaram militantes pela paz, encabeçando um movimento pela cura e pelo perdão, pois perdoar quem te feriu te liberta das amarras do ódio e do rancor.  Essa liderança feminina levou Ruanda a uma poderosa conquista: ter o maior número de mulheres em cargos governamentais no mundo, o que é algo extraordinário mesmo comparado a outros países ditos “desenvolvidos”.

A história dessas quatro mulheres teve um final feliz, mas e quanto à África?  Nos dias de hoje, 24 dos 54 países africanos estão em guerra civil: Etiópia, Somália, Quênia, Burkina Fasso, e outros tantos; são em sua totalidade países carentes onde civis inocentes e o que restou de uma vida digna são dizimados de forma selvagem. Conflitos que nos levam a refletir se algum dia a África conseguirá respirar ares de paz e prosperidade, pois a cada ano que passa essa realidade parece ser cada vez mais utópica. 


Vale Ver!




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