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'Clara Sola': um drama intimista sobre repressão, sexualidade e religiosidade | 2022

NOTA 8.5

Por Rafael Ferraz @issonãoéumacrítica

Clara (Wendy Chinchilla Araya) é uma mulher com profundas ligações com o divino, pelo menos é o que acreditam os moradores de um vilarejo no interior da Costa Rica, e sua mãe Fresia (Flor María Vargas Chavez) que não apenas crê na dádiva da filha como a guia no caminho espiritual com mãos de ferro. Reprimida desde a infância e sem saber lidar com desejos e sensações, Clara, que se aproxima da meia idade, começa a questionar tudo a sua volta, em uma busca por liberdade e autoafirmação. Um processo doloroso e que afetará a todos ao seu redor.

Dirigido pela estreante Nathalie Álvarez Mesén, ‘Clara Sola’ foi o representante da Costa Rica no Oscar, tendo feito todo o circuito de festivais e vinha, desde 2021, numa sequência de ótima repercussão por onde passou, inclusive levando prêmios como os de melhor atriz, direção de arte e diretora estreante na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. 

Logo de cara destaca-se a abordagem intimista que a diretora propõe, nos fazendo imergir no universo bastante particular de Clara, principalmente na escolha dos enquadramentos, sempre priorizando os close-up’s e planos detalhe, tornando cada toque e olhar da protagonista um modo eficiente de comunicação com o espectador. São sequências que se repetem ao longo de toda rodagem, mas sem jamais parecer repetitivas, uma vez que se tratando de uma personagem cujo histórico é de grande repressão, essas pequenas cenas são como janelas para um interior que clama por ser visto, notado, ouvido, libertado. A trama também tem fortes simbolismos, como a dinâmica mulher e natureza, mas articula isso de forma a não ficar restritivo, deixando a subjetividade como “algo a mais”, não impedindo a compreensão do todo, ao mesmo tempo que não subestima o público com explicações óbvias ou diálogos expositivos.

A trama gira em torno de uma mulher cujo amadurecimento tardio, fruto de uma criação reprimida, está vinculada a uma personagem retratada no interior da Costa Rica, entretanto, permanecemos numa realidade muito semelhante, seja no campo ou em centros urbanos. A invisibilização e o controle sobre os corpos é uma constante no trato com o feminino e mesmo após inúmeras conquistas, há essa percepção de termos conquistado tão pouco, a ponto de o óbvio ainda necessitar ser dito com tanta frequência, por vezes não só em tom de lembrança, mas como um grito de socorro por um mundo que caminha a passos curtos em direção ao progresso e nos prova a cada dia ter um longo trajeto a percorrer.


Vale Ver!



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