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'Continência ao Amor' conquista com romance e críticas sociais | 2022

NOTA 8.0

Por Karina Massud @cinemassud 

A grande maioria dos romances começa com o encantamento mútuo: atração, borboletas no estômago e vontade de estar junto o tempo todo. E alguns poucos começam pelo caminho inverso, principalmente em romances da ficção, onde o casal se atrai através da implicância, briguinha que no fundo é uma paixão escondida atrás do medo de se declarar. Baseado no livro da escritora Tess Wakefield “Purple Hearts” (corações roxos, que é o nome da condecoração dada a soldados feridos ou mortos em batalha), o novo drama romântico da Netflix “Continência ao Amor” tem como enredo inicial esse clichê, mas o viés de importantes críticas socioculturais é o que lhe confere fôlego pra se destacar dos demais.

Cassie é uma filha de imigrantes que trabalha como garçonete até que sua carreira como cantora deslanche; sua vida, que já é difícil, lhe prega uma peça quando ela descobre ser diabética e não tem como cobrir o alto custo das injeções de insulina. Luke é um oficial da Marinha americana que fez algumas burradas no passado e está prestes a ir pro Iraque. Ela é uma latina liberal, defensora dos direitos dos menos favorecidos; já ele é o típico “WASP”, branco anglo-saxão conservador. Ambos estão desesperados precisando de dinheiro: Cassie pra tratar sua diabetes e Luke pra pagar uma dívida que o ameaça; é aí que encontram um porto seguro um no outro através de um casamento de fachada. Mas, antes que chegue a parte do “felizes para sempre”, eles tem que superar suas diferenças e enfrentar vários percalços que não estavam previstos. Nesse aspecto o filme é um retrato da vida como ela é: fazemos mil planos, tudo muda e nos obriga a partir pruma segunda via, adaptando e redirecionando a nossa felicidade.

No roteiro de Kyle Jarrow e Liz W. Garcia, as ideologias opostas dos protagonistas são o fio condutor da trama e do conflito entre eles, se tornando o diferencial do longa, refletindo a polarização insana que impera atualmente no planeta.

A diretora Elizabeth Allen Rosenbaum aborda o preconceito contra os imigrantes latinos, que apesar de terem ajudado a construir a América, são tratados como indivíduos inferiores. E, ainda que de forma branda, a narrativa também cutuca o problema do alto custo da medicina nos EUA e a inexistência de um sistema de saúde público, o que coloca os que não têm um plano médico em uma situação dificílima. Apesar de ser um país dito desenvolvido, nos EUA as injustiças sociais são gritantes.

Sofia Carson está muito bem como a arredia e (justificadamente) revoltada Cassie - ela encanta apesar de carecer de uma pitada de doçura nos momentos mais românticos; sua performance como cantora também é envolvente, ela tem uma voz e presença de palco fortes, interpretando lindas canções originais. O mesmo não se pode dizer do ator Nicholas Galitzine, que vive um Luke sem tempero ou qualquer outra emoção digna de nota, sua feição não muda um minuto, seja na dor, na paixão ou na raiva. No entanto, a química entre eles é suficiente pra render boas cenas a dois.

Alguns clichês tornam certas sequências cansativas e do tipo que qualquer cinéfilo iniciante tem a sensação de já ter visto mil vezes: o falso casal fingindo ser “de verdade” perante amigos e familiares desconfiados da união súbita; o mocinho em reabilitação, sofrendo pra subir escadas ou passear com o cachorro de apoio emocional. As várias pequenas reviravoltas na segunda metade do filme são excessivas mas não chegam a comprometer a trama como um todo.

Apesar da fórmula batida, “Continência ao Amor” agrada bastante com a combinação de amor entre opostos, problemas sociais muito relevantes e a jornada de redenção dos belos protagonistas.


Vale Ver!




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