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'Trezes Vidas: O Resgate' e a tensão que Ron Howard imprime pra contar uma história impressionante | 2022

NOTA 9.0

Por Maurício Stertz @outrocinéfilo 

Um dos bons debates que circula pelo Cinema está na Forma, ao investigar como um realizador conta suas histórias e traduz sua visão inicial e intenção diretamente à tela, decidindo o que entra ou não no conjunto final. Parece pouco complexo pensar estas movimentações neste jogo de preferências. Todavia, ao organizar uma história, o interlocutor escolhe os ‘nossos’ caminhos, dependendo de ferramentas que são suas por direito, como um ponto de virada inesperado ou um clímax bem construído.

O mais interessante é que a expectativa do público está ligada também a surpresa. Neste momento, historias de conhecimento geral poderiam perder sua força? Definitivamente não! Embora os elementos (surpresa ou tensão) sejam dificultados. É o que acontece com aqueles baseados em eventos reais, uma leva de filmes repletos de histórias, no mínimo, familiares, em que a construção da estrutura (o meio) ganha mais importância do que o fim. Nas mãos certas, um desfecho já esperado é enriquecido pelo caminho. 


'Treze Vidas: O Resgate' é um filme baseado na história dos 12 garotos tailandeses e seu treinador de futebol que acabaram presos numa caverna, inundada rapidamente devido as chuvas torrenciais do período das monções que se aproximavam da região. Este caso ganhou a mídia na época, mas confesso que pouco lembrava dos detalhes que não o desfecho positivo, embora o diretor Ron Howard tenha me feito questionar minhas lembranças turvas em dado momento.  

O diretor responsável por 'Apollo 13' (1995) e os filmes adaptados a partir das obras de Dan Brown ('Código da Vinci', 'Anjos e Demônios' e 'Inferno') e na mochila o (brilhante) 'Uma Mente Brilhante' (2001), que lhe rendeu um Oscar de Melhor Filme, estrutura estes acontecimentos como um bom contador de histórias faria, escolhendo precisamente a ótica e o tom ao fazê-lo. Aliás, o gênero é permissivo para que Ron não assuma seu pedestal de contador nada confiável (ao florear situações), escapando da burocracia de apenas documentar fatos.

A opção encontrada é focar no resgate. Após o primeiro contato, com a ida do time até a caverna, o ponto de vista subjetivo é atravessado ao lado de fora e ao invés disso, acompanha os mergulhadores, interpretados por Viggo Mortensen e Collin Farrell, numa jornada agoniante de salvamentos pelas imperfeições da caverna. Os dias intermináveis no breu gelado da caverna por onde os garotos passaram são deixados de lado por um momento. 

Após uma breve contextualização, somando os olhares atentos das famílias que buscavam por notícias ao pé da montanha que abrigava a caverna, a política e a burocracia local e os milhares de voluntários de vários países que se dispuseram a ajudar, o resgate toma corpo e a cada mergulho a sensação é de perder o fôlego junto com estes heróis vestidos em Neoprene. 

As cenas submersas são um show à parte. A produção consegue extrair o máximo de cada mergulho, mantendo a câmera sempre próxima o bastante para que as bolhas de oxigênio encontrem o olhar assustado dos mergulhadores de relance. Embora exista uma armadilha na falta de novidade de cada ida e vinda(seriam 13 salvamentos iguais), o diretor encontra formas de deixá-las interessantes e adicionar pitadas de tensão. O que me fez questionar a todo momento a fidelidade da minha própria lembrança: “será mesmo que esta é realmente uma história com final feliz?”. Pensei. Passadas as primeiras investidas debaixo da água, não sabia mais dizer.

Esta experiência faz parte de uma intenção muito bem executada ao desenvolver a tensão e deixar o espectador à plenos pulmões (ou quase) ansiando por comemorar cada um dos resgates. A preocupação com a estrutura (o meio) ficam cada vez mais claras. Ron Howard não se apoia no sentimentalismo, nas dificuldades do que se passava dentro da caverna ou nos homens por trás das máscaras. É pragmático ao perceber o olhar pelo lado de fora, com um carinho ao desconhecido e as improbabilidades de tirar os garotos de lá com vida.

'Treze Vidas' é emocionante. Um filme que transporta quem estiver disposto a ‘escutar’ essa história para a boca da caverna. E Ron Howard, que chegou tarde à festa dos grandes, se consolida ainda mais como um ótimo contador de histórias reais, apenas portando tubos de oxigênio e boas ideias.


Super Vale Ver!






 

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