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'O Palestrante' : o humor de Fábio Porchat e a máxima sobre aproveitar segundas chances | 2022

NOTA 7.5

Por Rogério Machado 

Existe um consenso em torno das comédias de situação: em geral são filmes que criam magnetismo no público  pois todos querem saber até onde vai dar a mentira. Em 'O Palestrante', que chegou recentemente às salas,  acontece o efeito reverso:  torcemos para que a mentira não seja revelada tão cedo, pois é a partir dela, ao contrário do que possa parecer, é que a vida do protagonista encarnado por Fábio Porchat vai sendo reencontrada por ele mesmo enquanto se passa por outra pessoa. 


Na comédia, Porchat é Guilherme Assis, um contador que trabalhou a vida inteira em uma mesma empresa. É infeliz e não sabe... ou será que sim? Ele é  mandado embora repentinamente. Depois de um pé na bunda da esposa (Letícia Lima) que ele pensava ser apaixonada por ele, se percebe sem amigos, sem família e completamente perdido no mundo. Ao viajar de avião até o Rio de Janeiro para para tentar uma última cartada na filial da empresa, ele se depara com Denise (Dani Calabresa) no desembarque esperando a chegada de alguém com uma placa escrito Marcelo Gonçalves. Mexido com a falta de perspectiva em sua vida, ele assume o lugar do tal Marcelo sem desconfiar da grande confusão em que estaria se metendo. 

Um dos grandes acertos da produção foi abraçar o excesso. Parece controversa essa argumentação já que comédias só são comédias quando lançam mão do 'over' para atrair o tal público cativo.  O que acontece é que algumas produções se dão ao luxo de gourmetizar piadas,  que não raras vezes frustra a experiência. Aqui não há economia na linguagem, o que acaba também gerando um humor ácido e por vezes até escatológico que vão ganhando aos poucos a atenção do público, que se dá incialmente pela identificação com o protagonista, que com ares de 'perdedor profissional' se lança num vazio que não há como não se importar com o que vem a seguir. É fácil se transportar para o lugar de Guilherme através do tipo comum performado com o habitual carisma de Porchat. 

É fácil entender  o porque de tantas piadas (sem filtro) funcionarem  tão bem: temos aqui boa parte da trupe do Porta dos Fundos, e o que parece é que estamos vendo uma daquelas esquetes do grupo em várias das sequências, principalmente quando o ótimo Antônio Tabet, um dos fundadores do Porta, está em cena. 

Marcelo Antunez ('Ate Que a Sorte nos Separe 3', 'Qualquer Gato Vira-Latas 2'), já experimentado na comédia, consegue um competente diapasão entre a mensagem central e o humor -  a tiração de sarro com os coaches motivacionais, a química entre  o casal em potencial e o incentivo aos recomeços e da  busca por reinvenção, convivem harmonicamente sem que um prejudique o outro. Algo muito comum em comédias populares produzidas por aqui,  são narrativas com tintas cômicas muito acentuadas serem prejudicadas pelo sensacionalismo ou um desfecho com carga emocional barata afim de gerar reflexão. Em 'O Palestrante', a mensagem vem discretamente ao longo da projeção, deixando a risada ser o ponto alto. 

'O Palestrante' não tem a ambição de ser uma comédia inteligente, mas na sua despretensão conquista o público por abraçar uma fórmula que agrada quase sempre: apostar na simplicidade.



Vale Ver! 



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