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'Pacificado' narra as intempéries de uma família vitima da violência numa favela do Rio | 2022

NOTA 8.0

Por Rogério Machado 

Grande vencedor na categoria de melhor filme de ficção na Mostra Internacional de São Paulo em 2019, 'Pacificado', primeiro filme em terras tupiniquins do cineasta americano Paxton Winters, lança um olhar tão tenso quanto intimista de uma família moradora do Morro dos Prazeres, no Rio de Janeiro. Tendo a luxuosa coprodução do aclamado diretor Darren Aronofsky ('Cisne Negro' -2010), o longa quebra a chamada quarta parede dos filmes sobre favela, campo esse que estamos acostumados a tatear quando se trata de cinema nacional. 


O longa acompanha a trajetória de Tati (Cássia Nascimento), uma menina introspectiva de treze anos, que busca se conectar com seu pai, Jaca (Bukassa Kabengele), depois que ele é libertado da prisão na estreia turbulenta das Olimpíadas do Rio. Enquanto a polícia brasileira de “pacificação” luta para manter uma ocupação tênue das favelas do Rio, Tati, que começa a se envolver com pequenos crimes, e Jaca, que pretende se livrar de um passado à frente da criminalidade na comunidade, devem navegar pelas forças conflitantes que ameaçam inviabilizar a esperança para o futuro.

A narrativa segue através do olhar da jovem que sem ao menos perceber, começa a se moldar no círculo vicioso da violência, a começar pelo exemplo que tem em casa, com um pai recém saído da cadeia, - que na realidade não sabe se é realmente seu pai biológico -, ou pelo tempestuoso relacionamento com a mãe, Andrea (Débora Nascimento) que vive em função do consumo de drogas. É dessa ciranda familiar disfuncional onde a jovem mulher vê que a polícia não é  uma entidade que protege e sim aquela que reprime com violência, gerando assim mais fúria e revolta,  perpetuando a sensação de medo e desamparo que não se extinguiram com a pacificação do morro. 

'Pacificado', ao contrário do que possa parecer e como sugeri na abertura desse texto, não segue a máxima dos filmes do gênero. Não há violência expositiva, muito pelo contrário, a violência está intrínseca e vem de um passado quando o tráfico dominava e a guerra de facções eram assunto cotidiano. Não que o tráfico, a contravenção e a maldade tenham deixado de existir, mas a narrativa está mais preocupada em desnudar as vítimas da maldade e os reflexos desse passado, do que se valer do mais do mesmo, ao apostar em cenas frenéticas de perseguição e tiroteio, sendo assim, pode ser que o ritmo candenciado incomode àqueles que esperam ver o que viram em 'Tropa de Elite' ou 'Cidade de Deus'. Os longos planos, que funcionam como os olhos daquela menina olhando de longe os fogos da abertura da Copa do Mundo no Maracanã ou o mar, parecem querer provocar reflexão a respeito dos desafios da periferia em meio a um sistema corrompido que oprime e sufoca. 

'Pacificado', que chega essa semana aos cinemas brasileiros depois de rodar o mundo, promove debates dos mais variados, mas um deles é patente: o homem é mesmo produto do meio? 



Vale Ver!




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