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'45 do Segundo Tempo' resgata valores perdidos através do reacender da amizade | 2022

NOTA 7.5

Por Rogério Machado 

Particularmente, gosto muito como o cineasta Luiz Villaça ('De Onde Te Vejo' - 2014)  toca em pontos sensíveis à existência, com um humor refinado poucas vezes visto, principalmente no cinema brasileiro.  A dicotomia entre drama e comédia é um material difícil de ser manuseado, mas Villaça sempre prova que consegue equilibrar essa dualidade com maestria. '45 do Segundo Tempo', que ainda segue em cartaz em alguns cinemas, tem o mérito de usar o humor para tocar o espectador através da crise existencial de três homens maduros. 


Para comemorar a data de inauguração do metrô de São Paulo realizada  em 1974,  uma campanha de marketing tem como ação recriar uma foto tirada naquela ocasião por quatro amigos. É aí que Pedro (Tony Ramos) se reencontra com dois amigos de colégio, Ivan (Cássio Gabus Mendes) e Mariano (Ary França), que não via há  mais de 30 anos. Não bastassem as crises existenciais, o envelhecimento, os caminhos e descaminhos de cada um deles, Pedro anuncia, para surpresa geral, que pretende tirar sua própria vida — mas não sem antes ver o Palmeiras, time por quem é apaixonado, ser campeão. 

É certo dizer que '45 do Segundo Tempo' se estabelece, muito despretensiosamente diga-se de passagem, como uma comédia dramática sobre as escolhas que fazemos ao longo da vida, sobre amizades, sobre redescobrir o presente ao revisitar o passado. O resgate de um passado que é abandonado pelo formato que a vida de cada um toma com o passar dos anos, seja pela formação de uma família, pela prioridade ao trabalho e carreira, entre tantas outras coisas que tomam o lugar do que deveria ser mais importante. A vida moderna cria uma carapaça de insensibilidade, e é sobre a retomada do se importar com o outro um dos pontos a serem observados na abordagem de Villaça. 

Numa produção que tem a dádiva de ostentar em seu casting um ator do nipe de Tony Ramos, é certo que a atuação é  facilmente considerada o ponto alto, e o bate bola com Cássio Gabus Mendes e Ary França é o que segura nossa atenção e detém nosso apreço por personagens tão diferentes quanto apaixonantes. É o talento desse trio que faz com que a comédia não suba de tom  e roube o apelo dramático no qual a obra de Villaça se insere. 

O termo '45 do segundo tempo', que aqui também faz alusão ao futebol presente nessa relação de muitos anos, também nos chama a rever o tempo que empregamos em coisas e pessoas que não valem mais nossa atenção. Desde que haja coragem, sempre teremos tempo extra para reaver conceitos e buscar a essência daquilo que realmente importa pra nós.


Vale Ver!



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