'Era Uma Vez um Gênio' : um filme sobre a arte de contar histórias | 2022
NOTA 9.0
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
George Miller está de volta! E que falta faz esse grande cineasta de filmografia tão diversa, muito embora pouco numerosa. Após sete anos desde o magistral ‘Mad Max: Estrada da Fúria’, Miller retorna ao lado de Tilda Swinton e Idris Elba em um longa com rica temática, entre elas a importância da narrativa oral, sobre histórias que geram histórias e o quanto tudo isso nos faz humanos.
Na trama acompanhamos Alithea Binnie (Tilda Swinton), uma acadêmica cética, solitária e aparentemente feliz nessa condição. Após estranhas visões em uma conferência em Istambul, ela retorna ao hotel e acidentalmente desperta um Djinn (Idris Elba), ser fantástico da mitologia árabe que a concede três desejos em troca de liberdade.
‘Era uma vez um Gênio’ teve lançamento em Cannes 2022 e mesmo tendo sido exibido fora de competição, gerou grande repercussão com uma das sessões mais disputadas do festival. Não é para menos, afinal o retorno de George Miller já é uma atração, junte Tilda Swinton e Idris Elba e temos um evento à parte. O longa é baseado no conto da escritora A. S. Byatt e, assim como o material base, todo o argumento é sustentado em um único diálogo, todavia esse diálogo vem acompanhado de flashbacks dinâmicos e cheios de aventura, ação, cores e mistério, com isso afastando a monotonia e renovando nossa atenção a cada relato. Além do ótimo ritmo, o filme tem bom uso dos efeitos visuais e não se faz valer deles como mero artifício gráfico. Apesar de faltar polimento em algumas cenas, a artificialidade é adequada, uma vez que os retornos ao passado adotam um tom mágico, teatral, quase idílico. Já no presente os efeitos são pontuais e sem exageros.
Idris Elba e Tilda Swinton dispensam maiores apresentações. Dotados de talento e carisma inquestionáveis, a dupla estabelece uma dinâmica muito verdadeira desde a primeira interação. A química entre os dois ganha ainda mais força conforme a trama avança, gerando contornos inesperados e camadas mais íntimas. Nesse jogo de cena em que não há coadjuvantes, o brilho de ambos co-existe em perfeita harmonia.
Recentemente se popularizou uma teoria formulada pelo historiador israelense Yuval Harari no best-seller “Sapiens” onde, segundo ele, nós dominamos o planeta porque o Homo sapiens é a única espécie na Terra capaz de uma cooperação flexível e em grande escala. Essa cooperação se dá, em grande medida, graças a nossa capacidade de pensar o abstrato, ou seja, criar histórias, afinal, o que são os conceitos como “democracia”, “moeda”, “nação” e “direitos humanos” se não narrativas criadas e amplamente aceitas como verdade? Dito isso, ‘Era uma vez um Gênio’ adota um caráter humanista, por vezes até moralista, mas com a sutileza de um conto de fadas contemporâneo tão místico quanto mundano.
Super Vale Ver!
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