"A Mulher Rei' : empoderamento da mulher negra é mote de épico estrelado por Viola Davis | 2022
NOTA 9.0
Por Rogério Machado
Nas minhas pesquisas para falar-vos de 'A Mulher Rei' , descobri que o reino onde o filme é ambientado e suas famosas Amazonas treinadas para abater o inimigo com alto poder letal, realmente existiu na África Ocidental entre os séculos XVIII e XIX e hoje fica situado no Benim. Aparte todo contexto histórico evocado no longa de Gina Prince-Bythewood ('The Old-Guard' - 2020), está uma produção que exala múltiplos significados e lições, que aqui se entrelaçam perfeitamente ao blockbuster produzido e estrelado por Viola Davis.
A história acompanha a saga dessas lendárias Amazonas Agojie, uma unidade composta apenas por mulheres guerreiras que protegiam o reino africano de Daomé nos anos 1800, com habilidades e força diferentes de tudo já visto. Além dos treinamentos pesados, as mulheres mantinham uma espécie de pacto de não se envolver com homens, pois segundo elas o amor enfraquece. Inspirado em eventos reais, a narrativa foca na emocionante jornada épica da general Nanisca (a vencedora do Oscar Viola Davis) enquanto ela treina uma nova geração de recrutas e as prepara para a batalha contra um inimigo determinado a destruir o modo de vida daquela comunidade.
A história do Reino de Daomé se mistura a história da escravidão no Brasil, pois o rei naquele período, Adandozan, que segundo relatos era tão incompetente quanto cruel, pra se livrar de seus adversários, os fornecia como escravos, sobretudo ao Brasil, que vira e mexe enviava traficantes para 'abastecer' os senhores de escravos nas Américas. Na trama, os traficantes são vividos pelos atores Hero Fiennes Tiffin e Jordan Bolger.
É bem verdade que a trama não abraça o lado nefasto e o rastro de sangue deixado pelo Reino de Daomé, que aqui apresenta uma versão de rei acima de qualquer suspeita, Ghezo (John Boyega), preocupado somente com o treino de suas guerreiras e de finalmente poder nomear a sua 'Mulher Rei', que junto com ele iria comandar esse poderoso exército. Contudo, não acho demérito ou 'passação de pano' da produção, nem vejo uma abordagem maniqueísta no roteiro de Dana Stevens e Maria Bello. Vejo aqui escolhas, e que em se tratando de 'A Mulher Rei', o enfoque busca enaltecer o legado, a força e a ancestralidade desse grupo, e que trazer uma história dessa para as telas é reforçar a importância da representatividade da mulher negra.
Por outro lado, se falta exposição dos fatos na íntegra, sobra cinema. E esse é o tipo de produção que atrai espectadores interessados no espetáculo. 'A Mulher Rei' tem todos os ingredientes que compõem uma grande história: dramas bem costurados dentro do épico, segredos densos, ação constante e mensagens potentes sobre empoderamento, sororidade e coragem. Isso tudo sem deixar de lado o sentimento. Outro ponto alto está no elenco, em grande parte composto por mulheres negras, onde Viola brilha como de costume, mas também dá espaço para a jovem Sul-Africana Thuso Mbedo ser o grande destaque da produção - é impressionante a desenvoltura da atriz diante do desafio de encarar um épico dessa dimensão ao lado de uma das grandes estrelas de Hollywood.
Em 'A Mulher Rei', que chega essa semana nos cinemas brasileiros depois de abalar as estruturas nas bilheterias americanas, não importa quando se perde ou quando se ganha, importa a luta.
Super Vale Ver!
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