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'Amira' expõe uma distante e impactante realidade gerada pelo ódio | 2022

NOTA 9.0

“Todos são iguais. O que você fez foi só um teste de DNA.”

Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme

Uma das facetas mais fascinantes do cinema é a sua capacidade de nos transportar para realidades sobre as quais nem sequer sonhamos. E o termo “sonho” aqui é utilizado apenas como sinônimo de um estado psicológico no qual nos desprendemos daquilo que nos diz respeito de forma mais direta e imediata. Mesmo porque o que é visto em “Amira” passa ao largo de qualquer idealização, estando bem mais próximo de um pesadelo gerado pelo ódio.

O longa do diretor egípcio Mohamed Diab (“Cairo 678”) traz para um núcleo familiar os resultados nefastos dos conflitos históricos envolvendo palestinos e israelenses através da trajetória da personagem-título, uma jovem árabe de dezessete anos que vai ter que lidar com uma revelação envolvendo a sua concepção. Fruto de uma inseminação artificial feita enquanto o pai já se encontrava preso e respeitado pela comunidade como um herói de guerra, a moça vai descobrir, quando ele decide ter mais um filho, que o sêmen contrabandeado para o procedimento não pertencia ao homem a quem amou e admirou durante toda a vida.

A partir daí, o roteiro vai lançar o olhar daquela família (e o nosso) para Warda, mãe de Amira, que passa a sofrer com a desconfiança de todos. Nesse sentido, é natural pensar nos filmes dirigidos pelo iraniano Asghar Farhadi (“A Separação” e “O Apartamento”) no que diz respeito à busca por uma verdade que, geralmente, coloca em xeque a moral de mulheres vítimas dos abusos cometidos pelo patriarcado em países do Oriente Médio. Warda, a fim de resguardar a adolescente das cruéis consequências de uma prática que a condenou a gerar e criar os filhos de um herói ausente tal como uma “missão”, é colocada numa situação bastante delicada, na qual sua integridade, inclusive física, ficará seriamente ameaçada.   

O impacto de uma história como essa reside tanto no absurdo contido na triste (e distante) realidade apresentada – baseada em dados trazidos ao fim da projeção – quanto na forma direta que seu realizador utiliza para contá-la. É importante também que detalhes da trama sejam resguardados para que o espectador possa se sentir o mais próximo possível das emoções vividas pela protagonista a cada descoberta. Sem floreios, Diab cria uma narrativa enxuta, de ritmo ágil e asfixiante, com o objetivo de nos infligir a mesma urgência que faz com que seus personagens tomem, sem tempo para pensar, decisões cujo desenrolar é nada menos que aterrador. Temos, assim, um filme que mostra como o ódio criado por conflitos políticos pode produzir tragédias que se sobrepõem incessantemente.   


Super Vale Ver!



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