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'Avatar': Como James Cameron consolidou a força de sua natureza | 2009

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Ninguém imaginava, lá no longínquo ano de 2009, que o cinema teria um ponto de divisão que marcaria a virada de uma era. Estamos falando do mundo antes de 'Avatar' e do mundo após 'Avatar', confirmando mais uma vez a genialidade do realizador James Cameron (que aqui é diretor, produtor e roteirista) como um exímio contador de histórias. Contudo, curiosamente o longa não foi o vencedor dos maiores prêmios do Oscar daquela temporada. Direção e Filme foram para 'Guerra ao Terror', que hoje é esquecido pela gigantesca maioria de frequentadores de cinema enquanto 'Avatar' foi o filme que ficou e entrou para a história como a maior bilheteria de todos os tempos e é lembrado até hoje com facilidade por quem o viu treze anos atrás.

A maior pergunta que se faz em relação a 'Avatar' é: como, afinal de contas, uma história batida conseguiu se tornar um fenômeno? Quem é cinéfilo sabe muito bem que premissas como as de Avatar surgiram aos montes antes de seu lançamento. Na década de 90 vimos 'Pocahontas', da Disney, e também o oscarizado 'Dança com Lobos', dirigido e estrelado por Kevin Costner, que traziam em seu enredo principal um militar que acabava se apaixonando pelos nativos que deveria "colonizar" (vou usar esse termo para não soar tão rude quanto "aniquilar") e por fim se volta contra seu próprio povo, lutando ao lado dos nativos após sua perspectiva de vida ser alterada. Em 2003 teve 'O Último Samurai', de Edward Zwick, que em muito se enquadra nesta descrição também. Enfim, filmes ainda mais antigos também retratavam esses dilemas de dualidade e terminavam sempre pendendo para o lado mais fraco. Então retorno à pergunta: como 'Avatar' conseguiu ser um sucesso tão estrondoso? A resposta não é tão simples quanto a trama, uma vez que a maior parcela de seu resultado incrível nas bilheterias se dá devido ao pudor técnico e cirurgicamente preciso da visão de seu criador.

Sei que já usei alegorias alimentícias aqui no site, mas vou recorrer novamente a esse recurso ilustrativo. 'Avatar', para alguns, equivale a um prato requentado, guardado na geladeira há dois dias, já perdendo uma quantidade notável de sabor; mata a fome de quem estiver de barriga vazia, mas tende a causar algum enjoo se não for esse o caso. Para os que gostam da obra, como é o meu caso, 'Avatar' é um prato conhecido e até tradicional, sempre preparado na hora (cada revisita é uma experiência nova), mas feito com temperos diferentes e servido em um jogo de porcelana belíssimo. O sabor é parecido, mas não é o mesmo tanto devido à estética do prato quanto ao paladar equilibrado de quem o fez agora. E James Cameron, meus queridos, é um dos diretores mais exigentes com a qualidade das próprias obras e é um criador de blockbusters nato. A mídia sempre o desacredita (todos apostavam no fiasco de 'Titanic' em 1997 e o filme acabou se tornando vencedor de 11 estatuetas do Oscar entre outros tantos prêmios), e com 'Avatar' não foi diferente; afinal, o que esperar de um filme sobre Smurfs tribais gigantes alienígenas?

E assim, em meio a descrença generalizada, fomos apresentados a Pandora e aos encantos que aquela lua possui em sua ampla variedade de fauna e flora. O marketing boca a boca, principalmente pelo belíssimo trabalho da tecnologia 3D, foi responsável por tornar 'Avatar' um evento genuinamente cinematográfico. O filme clama pela tela gigante, clama para ser visto em 3D e clama para ser revisto várias vezes dada sua qualidade absoluta de som e imagem - e em retribuição ele entrega um espetáculo que põe o cinema como experiência sensorial, implantando um espírito de inovação e ousadia em cenas que desafiam a imaginação do público independente de sua faixa etária. Seu apelo surrealista dá cores e vida aos sonhos mais primitivos do homo sapiens, tais como selar grandes bestas aladas para voar livremente ou desbravar mundos além do que conhecemos com culturas que nem imaginamos. 'Avatar' é, sem sombra de dúvidas, uma obra que valoriza e engloba a arte  em todas as suas camadas. Música, dança, arquitetura, pintura, escultura, artesanato, enfim, toda a gama de artes até então imagináveis estão em 'Avatar' direta ou indiretamente, através de seu intenso processo criativo e em sua riquíssima produção.

O filme se estabelece como um divisor de eras, conforme já falado; um marco temporal. No entanto, é um dos filmes mais atemporais que o cinema moderno já criou. A força da natureza de James Cameron como idealizador e contador de histórias se fez valer mais uma vez e revolucionou a história do cinema. Claro, há quem não goste de 'Avatar' (é um filme que diverge opiniões até mesmo dentro do Papo), mas é inegável que o filme seja um evento de celebração da potência que o cinema tem em propagar ideias e mensagens. Após 'Avatar' inúmeras organizações sociais começaram a surgir e a dialogar com os grandes governantes sobre a necessidade de cuidar das diversidades naturais do planeta Terra, levantando debates e discursos políticos que defendem ou atacam o crescimento desorganizado da exploração natural. 'Avatar' não mudou só a indústria; ele colocou um novo olhar sobre o mundo e sobre nós mesmos, tanto como indivíduos quanto como o coletivo que somos enquanto sociedade.

Hoje, quase uma década e meia após o lançamento original do filme, ele continua sendo relevante e retorna aos cinemas em antecipação ao lançamento do segundo filme da franquia, cujo lançamento está programado para dezembro. Desde já me pergunto se teremos pessoas declarando amor a Pandora e vontade de ir morar lá assim como tantos disseram em 2009. Isso, meus queridos, é a magia do cinema acontecendo. 




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