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'Eike – Tudo ou Nada' narra a trajetória de um dos mais controversos (e midiáticos) empresários brasileiros | 2022

NOTA 6.0

“It’s all about money!”

Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme

“Eike – Tudo ou nada” começa com uma cena na qual a mãe do ainda pequeno protagonista o coloca para mergulhar numa piscina no intuito de amenizar uma doença respiratória. Enquanto o garoto se esforça para nadar na água gelada, números acerca da quantidade de voltas necessárias para se atingir o objetivo surgem em tela. A partir disso, o longa das diretoras e roteiristas Dida Andrade e Andradina Azevedo vai tentar nos mostrar como determinação (“Nunca desista!”, diz a mãe) e uma boa dose de megalomania fazem parte do perfil de uma das figuras mais controversas do ramo empresarial brasileiro, Eike Batista.

Inspirado no livro homônimo de Malu Gaspar, o projeto abrange a trajetória do homem que adquiriu status de Midas após se tornar o sétimo homem mais rico do mundo e que, como consequência do mesmo arrojo que o fez subir, viu todo seu império ruir em poucos anos. Da capa da Forbes às páginas policiais, o que acompanhamos na narrativa de “Eike – Tudo ou Nada” é a ascensão e a queda de um homem que apostou alto ao abandonar o setor de mineração para entrar no promissor território da exploração petrolífera assim que a descoberta do pré-sal foi anunciada. Como águia que mira um alvo e avança em sua presa, Eike, interpretado por Nelson Freitas, monta uma equipe de profissionais ambiciosos – alguns vindos da própria Petrobrás –, e que se revelam importantes coadjuvantes nessa escalada, dentre os quais vale destacar o sarcástico “Dr. Oil” vivido por Xando Graça.

No entanto, ao ser narrado pelo braço direito de Eike, vivido pelo sempre ótimo Thelmo Fernandes, o filme não consegue decidir o tom a ser utilizado, sobretudo em cenas que mereciam uma carga maior de ironia, como aquela em que Eike se autointitula um patriota ao negociar com o governador do Rio apoio para a candidatura da cidade como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, assim como os momentos em que tentam aproximá-lo da imagem de um homem simples, que come coxinha, ou de generoso homem de negócios poderoso que se preocupa com o desemprego de seus funcionários. Além disso, a forma que as diretoras encontraram para abordar a influência deste símbolo de um ideal de empreendedorismo na vida do cidadão comum – que decide se tornar um pequeno investidor - decepciona. Para tal, somos apresentados a uma família de classe média na qual o pai é fã de Eike, numa simplificação demasiada dos efeitos deste discurso através de metáforas pouco criativas e que são, inclusive, explicadas pelo texto, como a que exibe os filhos jogando videogame e, ao fundo, o pai olha receoso para os gráficos no notebook enquanto a voz em off de Eike diz: “Isso não é um jogo de crianças.”.

Outro indício de pouca inspiração estética reside na pequena incursão feita na vida pessoal do empresário, que conta o seu conturbado (e midiático) envolvimento com a ex-modelo Luma de Oliveira. Aqui o longa tenta criar uma espécie de delírio burlesco provocado pelo uso de uma engenhoca trazida pelo guru espiritual encarnado por Charles Paraventi, no qual Eike relembra tal período de sua vida como se estivesse fugindo, de acordo com o que é proposto, de tudo o que poderia desviá-lo de suas metas. Nesta passagem não há, por exemplo, qualquer menção ao filho Thor, e a encenação em si, remetendo a um circo (jura?!), é mais uma prova de que o projeto não soube articular bem o seu recorte com as escolhas feitas na hora de levá-lo às telas.   

Temos, portanto, um filme que, retomando a imagem da piscina que abriu esse texto, jamais aprofunda o seu mergulho em qualquer uma das direções para as quais aponta. Superficial enquanto cinebiografia, “Eike – Tudo ou Nada” é limitado até mesmo dentro do seu escopo, já que sua estrutura engessada, que não consegue fugir da semelhança com um mero resumo, pouco se permite como crítica para além de algumas piadas com a presença de um youtuber que “alfineta” (de forma bem branda, diga-se) um homem que possui a própria imagem, em pose pra lá de cafona, num enorme quadro pendurado no escritório. E como um apanhado do cenário econômico e político do País da última década, não nos traz nada além daquilo que se acompanhou nos noticiários. Se o espectador quiser mesmo o contato com uma obra em que o capitalismo selvagem é destrinchado com a criatividade e a ironia necessárias, fica a recomendação do genial “O Lobo de Wall Street”, do mestre Martin Scorsese, cujo lançamento curiosamente data do mesmo ano (2013) em que Eike perde o posto de homem mais rico do Brasil. Esse sim vai no “X” da questão.   


Vale Ver Mas Nem Tanto!



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