Adsense Cabeçalho

“Uma Pitada de Sorte” narra a busca por um sonho em meio à festas infantis e alta gastronomia | 2022

NOTA 6.0

Por Karina Massud @cinemassud

O dia a dia de um restaurante badalado pode ser bastante estressante, sobretudo pela exigência de pratos sempre impecáveis, a correria pra executá-los e as demandas dos clientes que algumas vezes podem ser chatos, mas sempre cobertos de razão. Porém, para Pérola, isso não é o principal motivo de estresse de sua rotina de “sous chef” (primeira ajudante do chef), a grande aflição dela é conciliar seu trabalho no restaurante e fazer seus pratos autorais serem notados, com o de animadora de festas infantis até que ela realize seu grande sonho de ter seu próprio estabelecimento.

Pérola é uma cozinheira de mão cheia, cozinha desde que se conhece por gente, por influência de sua avó que deixou esse legado, além da empresa de festas infantis que sustenta a família. Ela se desdobra entre pratos sofisticados e a animação de festas que valorizam a cultura brasileira, interpretando pra criançada personagens como a Cuca, Iemanjá e o Bumba Meu Boi, mas ela quase não dá conta dessa via sacra estafante de ir diariamente do restaurante na zona sul do Rio pra Jurujuba, um simpático bairro de pescadores em Niterói. Por um feliz acaso, ela é escolhida pra participar como ajudante de um chef famoso em um reality show culinário, e essa pode ser a porta pra grande virada da sua vida.

A atriz Fabiana Karla é talentosa e engraçada, mas em “Uma Pitada de Sorte” sua personagem não funcionou direito, ela não está hilária como a nutricionista Dra Lorca, ou a professora de pobreza Dona Gislaine, personagens do programa humorístico “Zorra Total” que já são um clássico com os famosos bordões “Isso pooode!” e “Isso não te pertence mais!”. Falta à Pérola a determinação pra correr atrás do seu sonho apesar de todos os percalços, e a coragem pra peitar sua mãe e se libertar das amarras por ela impostas; tudo é morno na personagem quando o que se espera dela é intensidade.

Os personagens coadjuvantes garantem o pouco brilho do longa: Gina (Jandira Martini), mãe de Pérola que se dedica às festas e à cultura nacional de corpo e alma; seu filho Fred ( JP Rufino) o garoto despachado que ajuda Pérola no que ela considera “inalcançável”; Raylane (Flávia Reis), a vizinha enxerida mas divertida;  o taxista Lugão (Mouhamed Harfouch) que nutre uma paixão platônica pela protagonista que ele transmite na devoção diária em ajuda-la; pra citar apenas uma parte do bom elenco de apoio.

O fascinante mundo da alta gastronomia, os bastidores de um reality show com o chef renomado, a dificuldade de se abrir um negócio próprio e a pressão pra seguir com uma tradição familiar, são temas com apelo popular que foram desperdiçados. O diretor Pedro Antônio Paes (“Um Tio Quase Perfeito”) tentou abraçar todos mas acabou por pulverizá-los ao longo da trama sem ao menos uma conexão que os ligue. Ele também não investiu na relevante questão da gordofobia, que foi apenas pincelada numa sequência jogada no meio da história, ficando numa zona cinzenta sem graça ou impacto, que apenas deixa um mal-estar no espectador. 

“Uma Pitada de Sorte” causa risinhos de canto de boca e uma sensação de que poderia ter sido uma ótima comédia com excelentes toques de drama. Não há dúvida que no filme os humilhados foram exaltados, porém sem os louros da vitória que mereciam.


Vale Ver Mas Nem Tanto!




Nenhum comentário