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'Adão Negro' : The Rock salva o dia - e a DC também | 2022

NOTA 7.0 

É, mãe. Quem vai me ensinar violência?

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Filmes de anti-herói tem ganhado cada vez mais espaço nos cinemas ultimamente. São obras potencializadas por uma vertente de desconstrução mitológica, mesmo embora seja algo proveniente das próprias HQs. Essa tendência é perfeitamente compreensível dado o evidente esgotamento que o gênero dos super-heróis no cinema tem sofrido pela saturação de títulos que estreiam quase que mensalmente. No entanto, ao contrário da concorrente Marvel, a DC iniciou seu universo compartilhado de filmes de forma tardia e fracassou miseravelmente em sua construção - um infortúnio terrível ocasionado, principalmente, por questões de fora das telas. A Warner decidiu então, de alguns anos para cá, investir em tramas independentes tanto dentro desse mesmo universo como também totalmente desconexas dele, se fazendo valer por si mesmas em seus próprios arcos - como é o caso de 'Coringa' (2019) e 'Batman' (2022), que funcionam sem vínculos um com o outro e nem tampouco com o DCEU. E quando as esperanças de uma reconexão entre as obras já era dada como perdida, eis que surge um herói que promete revitalizar a franquia e consolidar o que já foi estabelecido até então; e esse herói é Dwayne Johnson.

Pensou que o protagonista do filme fosse o Adão Negro? Pois pensou muito errado! Johnson, vulgo The Rock, é quem salva o dia (e a DC) no fim das contas - e digo isso porque ele, com sua enorme influência e domínio de público, conseguiu instituir a permanência do elenco original do DCEU para, quem sabe, um vindouro segundo 'Liga da Justiça'. É pontual, inclusive, que o executivo presidente da DC Walter Hamada tenha sido desligado no mesmo dia em que o novo filme da legenda chega aos cinemas, 19 de outubro. Hamada queria adotar reboots como solução para os problemas do universo compartilhado, mas Johnson foi até a chefia da Warner para convencê-los que essa visão estava errada. Os fãs não querem mais reboots, nem novas escalações de elencos; os fãs querem continuações, e entregar aos fãs o que eles querem é algo que Johnson sabe muito bem como fazer. Agora, além da linha "The Rock na selva" (que contempla vários filmes onde ele parece interpretar o mesmo personagem no meio do mato), temos agora a linha "The Rock entre escombros" (use "ruínas" se preferir, também fica bom), que já abrange quase meia dúzia de títulos e que, inclusive, é uma descrição que representa muito bem o estado em que estava o universo compartilhado DC até agora. Johnson é inegavelmente carismático, e sua popularidade é tão grande que não há exagero em afirmar que ele seja um fenômeno da indústria.

Com 'Adão Negro' e as tantas conexões que faz com os filmes passados (e pistas distribuídas pontualmente para um novo embate no futuro), é possível vislumbrar a entrega de projetos e a sequência de sagas esperadas há quase dez anos conforme manda a freguesia que acompanha fidedignamente a DC nos cinemas. Se os fãs querem sequências às ideias de Zack Snyder, o estúdio agora entregará isso. Realizadores de outros projetos da DC (James Wan, de 'Aquaman', e Patty Jenkins, de 'Mulher-Maravilha') também consideram a versão do diretor de 'Liga da Justiça' como canônica. E por falar no diabo, o filme bebe (não consigo afirmar ainda se direta ou indiretamente) da fonte de Zack Snyder em diversos momentos, usando e abusando de cenas onde a câmera lenta dita o ritmo a ser contemplado. Uma delas, bem especificamente, parece copiar deliberadamente '300' (2007), e o sangue computadorizado remete aos enfadonhos efeitos da sequência de 2014, 'A Ascensão do Império'. Contudo, não é só nisso que o filme se aproxima de Snyder; aqui é a primeira vez em que, de fato, tem-se um vislumbre do horizonte que a DC quer traçar nas telonas.

O filme em questão é genérico, um feijão com arroz daqueles que a gente tá acostumado a comer todo dia, mas ele mata a fome - o que nesse caso significa que cumpre o que promete, que é entregar um entretenimento fácil e cheio de ação, com efeitos visuais na maioria das cenas e resoluções tão previsíveis que chegam a ser pífias. Contudo, defendo o filme como uma obra que é o que é, sem querer ser mais do que isso. É simplista, redundante e até cafona, mas o que me faz gostar dele é o simples fato de ele funcionar. Não estamos diante dos simbolismos de Snyder, estamos falando de Jaume Collet-Serra! O cara entende a pontualidade da ação e faz uso desse timing para elevar o roteiro ordinário a um patamar de graciosidade e beleza. Ser genérico não é ruim - na verdade, era de um filme assim que a DC precisava para ser menos sisuda e mais popular.


Vale Ver!



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