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'Contatado' questiona alienação provocada pela crença irrestrita em líderes espirituais | 2022

NOTA 7.0

Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme 

A expressão “Leve-me ao seu líder” foi cristalizada pela ficção no imaginário popular e, geralmente, é associada ao que seria ouvido no primeiro contato humano com povos vindos de outros planetas. Afinal, de acordo com as nossas convenções sociais, é natural que o visitante se dirija ao representante maior do lugar onde se pisa pela primeira vez. Porém, hoje, com o número cada vez maior de autoridades religiosas autoproclamadas atuando – de forma direta ou indireta – no campo político, não seria de se estranhar que, numa possível visita de OVNIs, a população local se sentisse dividida sobre para quem apontar.  E o que “Contatado” faz é discutir, a partir das seitas oriundas de um passado antigo, sobre a nossa necessidade de acreditar e como ela, tanto na esfera espiritual quanto a que envolve cargos públicos, deixa-nos à mercê de falsos salvadores.

Na trama, acompanhamos Aldo (Baldomero Cáceres), o ex-líder aposentado de um culto “extraterrestre” que, envelhecido e solitário, ganha a vida como guia nas ruínas de uma cidade peruana que se tornou destino certo para turistas interessados em experiências místicas, até o momento em que surge Gabriel (Miguel Davalos), um jovem que afirma ser seu seguidor, querendo convencê-lo a reassumir o posto de profeta. Em seu terceiro longa-metragem, Marité Ugás, colaboradora em obras como “Pelo Malo”, utiliza a relação entre o casmurro e egocêntrico Aldo, que vai aos poucos relembrando a sensação de ser ouvido por um séquito atento e nada questionador, e o rapaz cheio de energia, ávido por alguém que o diga onde investi-la, para tecer um comentário pertinente sobre a onda de alienação que toma conta da América Latina que resulta na entrada cada vez maior de gente ligada a algum credo na disputa por mandatos.  

Assim, essa coprodução entre Brasil, Noruega, Peru e Venezuela, chega aos nossos cinemas em momento bastante oportuno, quando o último processo eleitoral comprovou o quanto a nosso povo é suscetível ao surgimento de figuras exóticas que se intitulam como guias espirituais e aptos à gestão pública. Vale lembrar que, por exemplo, o tal “padre de Festa Junina” recebeu mais de oitenta mil votos, o que não é pouco dado o contexto de seu surgimento. Talvez, por isso, diversos “messias” políticos em busca de adoração cega fazem de tudo para que suas imagens sejam associadas a determinadas congregações. E, embora não aprofunde tanto o quanto poderia acerca da alienação proveniente da crença irrestrita, que domina parcela significativa dos lares sul-americanos, “Contatado” nos fornece um interessante ponto de partida para uma discussão racional sobre o tema.


Vale Ver!



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