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Festival do Rio: 'Broker - Uma Nova Chance' | 2022

NOTA 6.5

Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme

O conceito de família, apesar da chiadeira dos retrógrados, tem sido ressignificado constantemente. Na maioria das novas acepções, um elemento sempre se configura como pedra basilar: o afeto. E se tem um diretor contemporâneo que dedica sua obra a mostrar as complexidades envolvendo as relações dentro de núcleos familiares criados a partir dos mais diversos contextos é o japonês Hirokazu Kore-eda.

Filmando agora na Coréia de Sul, o autor do magistral “Pais e Filhos” e do vencedor da Palma de Ouro em Cannes “Assuntos de Família”, influenciado, talvez, pela forma como os produtos audiovisuais daquele país tendem a misturar diferentes gêneros, “Broker” vai articular elementos do melodrama, do policial e da comédia. Se o início traz uma forte dramaticidade pontuada pela chuva que emoldura uma personagem central e pelo piano que acentua o abandono de um recém-nascido numa caixa destinada a esse propósito, aos poucos, os desdobramentos desse ato trarão novos ares para o longa. Não demora muito até que o roteiro (escrito pelo realizador) estabeleça o contexto envolvendo um assassinato e a prática de comercialização de bebês para, logo em seguida, enfiar um grupo improvável de desgarrados numa van caindo aos pedaços – numa clara adesão ao road movie – no intuito de vender o pequeno Woo-sung, seguidos de perto por uma dupla de investigadoras.

É a partir da relação entre os componentes desse grupo formado ao acaso que Kore-eda tenta estruturar sua narrativa sobre a construção do afeto entre seres que vão percebendo que possuem bem mais em comum do que pensam; porém, à medida que a trama avança fica evidente que o diretor tinha pouco a oferecer senão uma repetição de muito do que já fora visto em seus filmes anteriores, só que sem a coesão e a consistência com as quais o seu público já está acostumado. É nítida a sensação de busca calculada pelo choro em certos momentos e a falta de traquejo do cineasta na concepção do humor. Nem o já comprovado talento de Song Kang-ho (“Parasita”) garante o nosso completo engajamento diante de situações que claramente careciam de uma melhor lapidação.  

Sem a mesma capacidade de manejar múltiplas cartilhas (algo que cineastas sul-coreanos como Bong Joon-ho e Park Chan-wook, por exemplo, esbanjam) Kore-eda apresenta um projeto  que, embora possua aqui e ali cenas que nos relembram o ótimo cineasta que está por trás câmeras, é incapaz de criar a fluidez necessária para que o público se renda a mais uma de suas famílias complexas, não conseguindo transitar pela difícil fronteira que separa a densidade que o tema pesado escolhido por vezes exigia e o tom curiosamente leve, típico de um feel-good movie, que decide seguir a certa altura.






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