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Festival do Rio: 'Meu Lugar no Mundo' | 2022

NOTA 9.0

Por Rogério Machado 

Ainda me lembro do impacto de 'Uma Mulher Fantástica', longa de Sebastián Lelio que recebeu o Oscar de Melhor Filme Internacional pelo Chile em 2018.  O filme que fala dos desafios de uma transexual em um mundo preconceituoso, anda  pelas linhas de uma narrativa com algum lirismo para transmitir a mensagem. Já 'Meu Lugar no Mundo', do espanhol Adrián Silvestre que está na programação do Festival do Rio,  o recado vem de forma direta, quase como uma cartilha a despeito da identidade de gênero e de todas as muralhas da incompreensão que se erguem ao redor de pessoas que não se reconhecem em seu próprio corpo.
 

Raphi é uma jovem trans francesa que vive na Espanha que fantasia a respeito de romances com príncipes e sobre ter uma família tradicional. Mas, na realidade, as coisas não são tão fáceis como ela poderia imaginar para uma mulher trans. Ela trabalha em um call center em Barcelona e às vezes passa por bons bocados em encontros embaraçosos, quando finalmente é diagnosticada por sua  terapeuta como tendo Disforia de Gênero. Durante esse período confuso, mas valioso, acompanhamos essa mulher em sua transição, bem como em sua vida cotidiana. Ela fala abertamente com colegas, amigos queer e os homens que conhece por meio de aplicativos de encontros. Apesar de todos os conselhos que ela recebe, é principalmente o tempo e a experiência que a ajudarão a tomar a decisão sobre o que ela deseja pra ela. 

'Não temos que mudar o nosso corpo, temos que mudar o modo como as pessoas nos vêm...'  Essa frase dita por Raphi ecoa em uma das reuniões de apoio para pessoas que já passaram ou pensam em passar pela cirurgia de mudança de sexo. Algo que Raphi ainda está tentando assimilar, e essa negação faz com que ela crie algumas teorias e mantras que nada mais são que o medo do que ocorrerá com seu corpo após o procedimento, como por exemplo se ela continuará tendo orgasmos, mesmo sem o pênis. 

Operar ou não operar? Esse dilema é um dos questionamentos do filme de Adrián Silvestre, contudo 'Mi Vacio y Yo' (título original, muito feliz por sinal) vai mais fundo na discussão mapeando o íntimo e o dia a dia de uma pessoa trans: a dificuldade de se relacionar, o preconceito, além de trazer à tona os demônios internos mais profundos de alguém que não se encaixa no lugar em que vive, muito menos na vida de outra pessoa. Será mesmo que pessoas trans estão destinadas a viverem só?  'Meu Lugar No Mundo' é um projeto que é feliz justamente pela escolha da direção em passar o recado sem rodeios. O modo incisivo como Silvestre segue os passos de Raphi é uma escolha que poucos tem coragem de ousar fazer. Bravo!



Super Vale Ver!



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