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Festival do Rio: 'Decisão de Partir' | 2022

NOTA 8.0

Por Maurício Stertz @outrocinéfilo

Uma tragédia romântica. É o que se desenha durante a investigação de um crime aparentemente normal num vilarejo qualquer. Esse é de longe um palco usual para isso, mas só confirma que talvez todos romances têm suas tragédias em certa medida. Acontece que o investigador Soo-Wan, no lugar e hora certa, conhece Seo-Rae, uma mulher de voz leve e olhar sereno, a quem define, contra as melhores probabilidades, como a principal suspeita de matar o marido, um empresário importante e escalador corriqueiro que, misteriosamente, aparece morto no 'rodapé' de uma montanha que costumava escalar.

Com o zoom como melhor artifício para captar as feições mais sutis, alçar a importância de cada personagem em tela e guiar o olhar do espectador, o diretor Park Chan-Wook, um dos grandes nomes do cinema mundial, que recebera seus louros por ótimos filmes como 'Oldboy' e 'A Criada' dispõe as peças de xadrez sobre a mesa, num duelo que será acirrado e pensado a cada movimento. É por traz do olhar e do sorriso que teima em tentar aparecer que Seo-Rae dá pistas de seu posicionamento, enquanto o detetive assiste, como Romeu à Julieta nesta analogia, a tragédia lhe tomar o mais que era mais importante daquilo que fazia.

E o vai-e-vem desse casal inesperado, de um detetive que acusa, sem acusar e uma dama que mantém a pose e dominância constante, contém as ironias mais humoradas de 'Decisão para Partir', suavizando o que a trilha se esforçava pra preencher com a tensão da investigação.

Além da narrativa brilhantemente montada, por vezes deixando os eventos irem e virem desprendidos da linearidade costumeira, alguns dos enquadramentos inconsistentes (no bom sentido) elevam ainda mais o filme em forma e simbolismos ou num estilo único e belo - como queira. Há novamente a sutileza que emprega em 'A Criada', travestindo sua personagem numa meticulosa estrategista das nuances a serem descobertas, mas há também o tom violento e fatal de 'Oldboy', porém bem menos corporal.

A narrativa, por fim, percorre um caminho convencional do gênero, é verdade. Com o leque de possibilidades na investigação e as idas e vindas dos protagonistas de uma história conjunta, desenvolvem fiapos de suspense de uma forma despretensiosa, mas totalmente eficiente.

'Decisão de Partir' é o postulante sul-coreano a corrida do Oscar, saindo de uma das indústrias mais expressivas do Cinema Mundial. A depredação do ser e as ironias eventuais são novamente inseridas para o bem da história, até mesmo para recriar a arrogância trágica dos apaixonados que não se merecem. 


Vale Ver!



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