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Mostra SP : 'Transe' | 2022

NOTA 9.0

Por Rogério Machado

Se há uma palavra que casa bem com qualquer projeto criativo é a reinvenção. E foi essa a palavra que eu encontrei para definir 'Transe',  um misto de documentário e ficção que esteve na competição da Premiére Brasil do Festival do Rio e está na Mostra SP esse ano. Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães nos faz reviver um período indigesto na nossa política em 2018, mas consegue também doses de esperança, já que estamos de volta ao espiral de um pleito eleitoral que está prestes a acontecer novamente. 

O ponto de partida de 'Transe' é  manifestação do Ele Não poucos dias antes do dia da eleição, capitaneada em sua maioria por mulheres. A protagonista, Luisa (Luisa Arraes), conhece Johnny (Johnny Massaro) e o leva para casa, formando um então triângulo amoroso com o namorado Ravel (Ravel Andrade). Por entre os diálogos criados no círculo de amigos desse trisal, o longa mostra, através de legendas na tela e  áudios, diversos discursos polêmicos do então candidato Jair Messias Bolsonaro, declarações inacreditáveis e estarrecedoras a favor da tortura, contra quilombolas, e outras minorias. 

Carolina Jabor  ('Aos Teus Olhos' - 2017 e 'Boa Sorte' - 2014) tem toque de midas para tratar temáticas pesadas e fazer dessa mesma mensagem algo não só palatável como atraente e caro aos espectadores. E assim, ela consegue fazer também nesse novo filme. Ao incluir um triangulo amoroso e criar um clima com muito amor livre, liberdade e diálogos, a direção consegue levar a audiência para dentro do debate, e ainda que o discurso seja incisivo e claramente contra  o candidato da extrema direita que esse ano volta ao cenário de um segundo turno turbulento e polarizado, percebemos que o direcionamento não é exatamente política por política e sim contra pautas e posições que não deveriam sequer ter sido um dia tomados, e que hoje se torna ainda mais inacreditável pensar que ainda estejamos lutando a mesma luta. Presenciando uma batalha entre o fanatismo  e a lucidez. 

O título 'Transe' , que pode nos remeter a uma lobotomização em massa, aqui também faz menção às relações interpessoais, seja por corpos através do sexo  ou através de longas conversas. Jabor traz por exemplo um debate que vira e mexe vem à tona quando questiona o porque de grande parte dos cristãos evangélicos viabilizarem e endossarem o discurso de ódio proferido por Bolsonaro, se é notório que a Bíblia prega o amor. Para isso, usa uma pontual participação do Pastor Henrique Vieira, que foi eleito deputado federal no último 02 de outubro e que é uma voz potente que vai na contramão de algumas lideranças evangélicas que apoiam o então presidente. 

Segundo Carolina Jabor sua intenção era fazer um filme histórico, mas desafortunadamente vemos a história se repetir. Torcendo aqui pra que dessa vez o final seja bem diferente. 


Super Vale Ver!




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