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'Super Quem?': comédia francesa é uma brincadeira deliciosa com filmes de herói | 2022

NOTA 8.0

A incrível arte de rir de si mesmo

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

A primeira impressão que se tem após o início de 'Super Quem?' é aquela velha familiaridade dos filmes-paródia, que satirizam obras famosas sem apresentar qualquer originalidade e se constroem inteiramente em cima da premissa da zoeira pela zoeira. É uma impressão que, nesse caso, se mostra equivocada e quase totalmente enganada. Existe aqui um embasamento em outros longa-metragens, claro, e esse filme depende da fama e do renome deles para ser funcional em suas colocações e piadas. Contudo, após um primeiro ato não muito inspirado, surge uma reviravolta que justifica o título e dá um contexto muito interessante para que comentários sobre o gênero dos filmes de super-heróis sejam feitos pelo próprio filme em questão.

'Super Quem?' reforça a absurda capacidade artística que o cinema possui de rir de si mesmo e de suas extravagâncias. Gargalhei alto em algumas cenas, que se tornam engraçadas justamente por estarem parafraseando cenas icônicas de outros filmes em uma aplicação "original". Lembra da abertura de 'Shrek 2', de 2004? Shrek e Fiona em sua lua de mel são mostrados replicando cenas de 'A Um Passo da Eternidade' (1953) e 'O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel' (2001), além do primeiro 'Homem-Aranha', lançado em 2002 sob a direção de Sam Raimi. O que é feito em 'Super Quem?' é equivalente ao que é feito em 'Shrek 2', mas elevado a uma outra potência e direcionado exclusivamente para filmes de super-heróis. A graça maior está na justificativa para que tais cenas aconteçam, e o roteiro cria situações inusitadas para estabelecer isso organicamente muito bem.

Batman aqui vira Badman, interpretado por um ator fracassado que sofre um acidente no período das gravações. Cédric Dugimont (interpretado por Philippe Lacheau, que também é o diretor do longa) é a face da decepção pessoal, mas se vê em situações de perigo real onde acredita ter uma missão a cumprir após bater a cabeça e se perder dentro do personagem heroico a quem interpreta; e isso rende ótimos momentos onde as coincidências fazem o filme ser muito bom de assistir. O lapso de memória do protagonista é a cereja do bolo na vida do ator frustrado que acompanhamos por aproximadamente 80 minutos (fazendo ele parecer o Buzz Lightyear no primeiro 'Toy Story', de 1995), mas o elenco de apoio também tem um papel importante a cumprir nessa "missão" e agrega muito valor ao desenvolvimento da trama enquanto roteiro original. Claro, estamos diante de um besteirol descompromissado com qualquer tipo de profundidade de lição moral (como 'Aquaman' fez em 2018, com sua mensagem sobre a poluição dos oceanos), mas não se deixe enganar: é essa liberdade o que torna 'Super Quem?' um filme divertido e memorável.

Curiosamente, apesar de parecer uma paródia, este filme se enquadra mais na categoria de autocrítica. É como se o cinema olhasse para si mesmo e conversasse com o público sobre as canalhices da indústria, sobre a saturação de títulos lançados no gênero e até mesmo sobre a influência que os filmes exercem sobre a sociedade. Apesar da zoeira repleta de referências que é fundamental para sua existência, este filme não é uma paráfrase gratuita. Há alguma originalidade aqui, mesmo que somente na proposta. Me recordo de 'Super-Herói: O Filme', lançado em 2008, que apresentava o Homem-Libélula em uma jornada idêntica à do Homem-Aranha, mesclando outras franquias e tirando sarro de tudo ao mesmo tempo. Olhando nesse aspecto, posso afirmar com tranquilidade que 'Super Quem?' é a melhor paródia dos últimos 15 anos, mesmo sem ser uma. Que grata surpresa! 


Vale Ver!



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