'Kobra – Auto retrato' traça o perfil de um dos maiores artistas urbanos do mundo | 2022
NOTA 8.0
Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme
Não é raro vermos artistas brasileiros sendo reconhecidos no exterior e, lamentavelmente, serem totais desconhecidos do grande público por aqui. Há, como sintoma de nossa eterna síndrome de vira-latas, a tendência de darmos mais holofotes a quem vem de fora, deixando de valorizar verdadeiras estrelas que surgem em diferentes frentes artísticas. E o que dizer quando tal produção faz parte de uma modalidade que ainda é alvo de muito preconceito? Obviamente que a ignorância acerca de qualquer obra se amplia; porém, atento a tais lacunas, o documentário “Kobra – Auto retrato” surge em boa hora para fazer justiça e jogar luz sobre um dos maiores artistas de rua do planeta.
Partindo de uma aparentemente simples entrevista, a diretora Lina Chamie, vai, à semelhança de uma muralista, traçando um painel que ganha forma aos poucos. Com habilidade para extrair de alguém que se confessa desconfortável diante das câmeras, ela colhe declarações relevantes que não só apontam para o renomado artista internacional, mas também para o homem comum que cresceu na periferia de São Paulo. E Chamie o pinta sem deixar de abordar questões familiares ou expor linhas tortuosas como violência nas grandes cidades, depressão e problemas respiratórios causados por anos de trabalho sem a devida proteção.
Nesse sentido, vale mencionar como o desenho sonoro – de responsabilidade da própria realizadora – e as imagens captadas por Lauro Escorel buscam criar no espectador uma curiosa sensação de transe, na qual os barulhos da cidade e das latas de spray sacudidas se misturam, numa clara alusão às noites insones enfrentadas por Kobra, enquanto o acompanhamos em passeios de bicicleta pelas ruas paulistanas. Além disso, a montagem enriquece o projeto ao imprimir uma fluidez agradável à medida que liga as falas do artista a planos aéreos que evidenciam a magnificência de seus murais gigantescos através de um orgânico uso de drones e de belas fusões.
Atento também à importância da valorização de uma arte que não recebe o status de patrimônio cultural como aquela encontrada nas galerias mundo afora, o longa é eficaz ao nos dar uma boa dimensão da relevância de Eduardo Kobra no cenário global das artes urbanas, quase sempre vistas como passageiras e não merecedoras do cuidado das instituições de preservação. E vê-lo pintando o muro de uma escola pública com a ajuda de um grupo de crianças reflete o quão influente ainda pode ser para as futuras gerações a beleza crítica do que ele produz e como o significado maior de sua obra tem tudo para ser bastante duradouro.
Vale Ver!
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