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'Mali Twist' : amor, revolução e Rock n' Roll no novo filme de Robert Guédiguian | 2022

NOTA 7.5

Por Maurício Ferraz @outrocinéfilo 

O Twist, como componente do nome, no Cinema nada mais é do que um ponto de virada, o momento específico em que a vida do protagonista e todos a sua volta é verdadeiramente impactada e, dali para frente, não há mais volta a quem foram algum dia – um momento em que não é mais possível retornar. Por mais simples que possa parecer o entendimento, uma analogia, que funciona mesmo fora de 'Mali Twist', prevê o mesmo. A vida é recheada de pontos de virada e eles podem ser forçados a si mesmo ou como interlocutores a viradas na vida alheia.

Em 'Mali Twist', quando Samba inicia sua revolução intelectual no Mali, pautada primeiramente no anticolonialismo, sua história não será mais a mesma a partir de então – muito menos a de muitas pessoas daquele lugar. Era preciso romper com alguns paradigmas, assim que o país adquiriu sua independência, em 1962. Com o ânimo juvenil que a idade permite, a vocalização dos medos ao passado e a esperança do futuro fazem dele um porta voz político engajado. Durante esse caminho, antecipando o grande twist que viria mais a frente, conhece Lara, uma garota que fugia de sua aldeia e um casamento arranjado que não por ela, muito comum à região. Temos a primeira virada na vida dos dois e destes encontros surgem as principais inserções de 'Mali Twist', com espaços para falar sobre as terras castigadas pela extração desmedida dos colonizadores sedentos por riquezas, a diminuição forçada dos sonhos alheios, o papel da mulher na sociedade e a alegria resiliente de um povo que canta e dança seus males. Não é para menos que as pessoas se vejam como consequentes às ações daqueles que arrombam porteiras e carimbam os ‘novos nomes’ dos senhores de terra em nanquins aparentemente duradouros (que pelo menos se transformarão em cicatrizes algum dia).

A saída para esses tempos difíceis estava apontada a um modelo mais social, termo assombrado pela história e alguns de seus interlocutores mordazes, mas de onde partiria a principal revolução cultural. Porém, enquanto o arroubo das cores alegres recebidas pelas estampas características se funde ao tom terroso tão somente agraciado pela geografia local, o didatismo das palavras ditas (que sequer precisavam ser), tornam o discurso mais simplório que talvez devesse, o que pode  atrapalhar um pouco da experiência. Por outro lado, outra vez, destaco o tom alegre de toda a produção, sobressaindo às roupas e as cores, as músicas e as danças, a câmera desperta a encontrar sorrisos sempre que pode, fazendo parte do entendimento a linguagem cinematográfica evoluída pelas regiões africanas.

Em paralelo, a virada na vida de Samba continuaria. Apesar das dificuldades que os cercam, a maior serenidade quando discursa contra o colonialismo é substituída rapidamente pela vulnerabilidade inocente ao encontrar Lara.  Não há socialismo, colonialismo ou seja lá o que for quando estão juntos.  O romance nasce livre das amarras (ou pelo menos se escapa delas). É um amor fulminante, uma admiração honesta, uma paixão que dura mais do que um simples verão. Passamos a torcer pelo amor dos dois, enquanto destituem o retrocesso casamenteiro pelo caminho e provam da felicidade, por fim.  

Mali Twist é um filme importante sobre a história de um povo. É ativo politicamente ao retratar temas complexos, mas não perde a compostura para tornar-se alegre, fugaz e compensar devidamente a esperança ao mais alto pedestal do idealismo. Provando que viradas (ou twists) acontecem na vida de todos, basta apenas um breve começo à elas.


Vale Ver!




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