'Sra. Harris vai a Paris': Leslie Manville dá show de doçura em história inspiradora | 2022
NOTA 8.5
Por Rogério Machado
A Paris apresentada em 'Sra. Harris vai a Paris' é muito diferente da que estamos acostumados a ver nas telas de cinema. A trama se passa anos depois da fim da Segunda Guerra Mundial e a França passa por um caos na classe trabalhadora, uma greve do funcionalismo está em pleno crescimento e a cidade Luz está envolta no lixo, no meio de muita sujeira e protestos diários. É lá que a inglesa Ada Harris quer estar para realizar um sonho, custe o que custar. Essa doce história estrelada pela indicada ao Oscar Leslie Manville vai muito além do que a busca por um sonho individual, é também uma história sobre empatia e sobre ser útil ao outro.
Na história que se passa na década de 1940, iremos conhecer uma faxineira viúva de um ex combatente, a Sra. Harris (Manville) do título, que fica encantada por um vestido de alta costura da grife Christian Dior, que viu em uma das casas onde trabalha. Ela decide que precisa desesperadamente ter um vestido igual e passa a fazer de tudo para economizar todo dinheiro para comprá-lo. Depois de receber repentinamente uma pensão de viúva de guerra, ela viaja para Paris para ir atrás desse sonho. Harris chega à Casa Dior bem no meio de uma exibição da coleção de 10 anos da grife, e acaba fazendo amizade com André, o contador da Dior, e Natasha, uma modelo da Dior. No entanto, em seu caminho está a diretora da Dior, Claudine Colbert (Isabelle Huppert), que não vê lugar para a faxineira Ada naquele mundo exclusivo da alta costura.
Refilmagem de 'Um Sonho em Paris' (1992), estrelado por Angela Lansburry, o projeto sob a assinatura do americano Anthony Fabian, que aqui estreia à frente de um longa de ficção, é um desses filmes que já não vemos mais: guarda uma certa pureza, comum às comédias da Era de Ouro do cinema, e ao mesmo tempo ostenta um humor afiado quando esse se faz necessário. Outro ponto é que mesmo partindo da triste dor da perda, o longa não se debruça sobre o vitimismo e faz de sua heroína uma personagem solar e admirável, não somente por fazer dela uma mulher que dribla seus obstáculos, mas também por torná-la inspiração pra quem está a seu redor.
Apostar na simplicidade e na verdade de uma personagem que ganha o público logo nos primeiros frames é certamente um dos principais atributos do longa, mas certamente o êxito aqui não seria tanto não fosse a habilidade de Manville em tornar sequências comuns em grandes acontecimentos, e isso sem proferir uma palavra sequer. Para tamanha elegância em cena, só mesmo a dobradinha com outra grande estrela, Huppert, que aqui funciona bem justamente por se tornar uma antagonista sem excessos, que acaba produzindo a mesma empatia que criamos pela protagonista.
No meio de um esbanjar de talento num timing preciso de comédia, ainda sobra espaço para algumas curiosidades, como por exemplo a viabilização da marca Dior para pessoas comuns e não somente para a aristocracia inglesa, ou mesmo a expansão da grife para além dos itens de vestuário. A mensagem de 'Sra. Harris vai a Paris' é simples mas potente, afinal, o tal fazer o bem sem olhar a quem e a retribuição do universo em função disso sempre pode ser uma boa pedida num mundo tão carente de reciprocidade.
Vale Ver!
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