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'Noites Brutais' explora a decadência urbana e a deterioração moral | 2022

NOTA 9.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

No cinema contemporâneo, a degradação urbana geralmente é associada a fatores ambientais, dado a relevância do assunto e também o senso de urgência que o tema é capaz de estabelecer logo nos primeiros minutos. No entanto, a problemática vai além, podendo abordar aspectos econômicos e sociais. Nos EUA, esse tipo de discussão quase sempre se concentra na situação de Detroit, cidade antes próspera, capital da indústria de automóveis do país, contudo, hoje em extremas dificuldades de ordem econômica, altas taxas de criminalidade e áreas inteiras transformadas em bairros fantasmas, fruto do abandono e falência dos que ali viviam. Tendo a cidade como cenário, muitos filmes articulam a deterioração moral em decorrência desses eventos históricos, inclusive nos variados gêneros; de ‘Robocop’ a ‘Amantes Eternos’, passando por ‘Corrente do Mal’. É nesse argumento que ‘Noites Brutais’ tem sua maior referência e costura boa parte do conteúdo simbólico e concreto.

Na trama acompanhamos Tess (Georgina Campbell), uma jovem que viaja até Detroit para uma entrevista de emprego. Chegando na casa em que alugou, num bairro distante em uma noite chuvosa, ela encontra um homem misterioso (Bill Skarsgård) já hospedado, vindo a descobrir logo após uma breve conversa que se trata de um erro do aplicativo. Cansada e preocupada com o compromisso do dia seguinte, Tess resolve passar a noite, porém, estranhos acontecimentos e bizarras descobertas apontam para algo terrível que ainda habita o local.

Escrito e dirigido por Zach Cregger, ‘Noites Brutais’ possui uma estrutura bastante comum, mas com momentos de virada que se destacam pela subversão de expectativas e mudanças de ritmo repentinas sem afetar o progresso e a coesão narrativa. Os primeiros 40 minutos são mais atmosféricos, com muita sugestão e um crescente desconforto pelo desconhecido. Passado o impacto inicial, o desenvolvimento fica arrastado e gera estranheza por parecer desconectado de todo, porém, uma vez plantada a dúvida, a busca por pistas mantém a tensão em níveis elevados. O uso de flashback é eficiente uma vez que não soa expositivo em demasia, dá o contexto necessário e abre portas para um futuro projeto de origem. O encaminhamento final adota um caráter tradicional, com aspectos familiares ao gênero. Um retorno ao convencional que pode desagradar aos que preferem um terror de vanguarda.

Lançado tardiamente no Star+ aqui no Brasil, o longa já vinha conquistando elogios desde sua estreia nos EUA, cerca de um mês atrás. Entre as menções, a de maior repercussão foi de ninguém menos que Stephen King, o mestre do horror, que destacou ‘Noites Brutais’ como uma grande surpresa. Talvez esteja nesse tal “fator surpresa” o sentimento predominante e grande diferencial da obra, em especial na virada do primeiro para o segundo ato e, por mais que o fechamento escorregue entre o improvável e o inverossímil, declinando ao óbvio nos minutos finais, dificilmente o baque da ruptura é neutralizado, consolidando o filme, se não como o melhor do gênero em 2022, o mais surpreendente dos últimos anos.


Super Vale Ver!



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