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'O Clube dos Anjos' : texto de Veríssimo faz refletir sobre colocar o desejo na frente da razão | 2022

NOTA 8.0

Por Rogério Machado 

A obra do escritor e cartunista gaúcho Luís Fernando Verissimo é marcada pelo deboche. Ainda que haja tragédia seus textos tem alto teor cômico, e essa característica de Veríssimo é facilmente identificada logo nos primeiros frames de 'O Clube do Anjos', mais um de seus textos adaptados para o audiovisual. O viés de crítica é permeado aqui com um tom soturno, mas que não deixa de lado a galhofa, o humor, a ironia. A trama sob a direção de Angelo Defanti, em seu primeiro longa de ficção,   estreou no Brasil no Festival de Gramado, passou pelo Festival do Rio, a Mostra SP e chega debaixo de muita expectativa no circuito comercial.


A história  nos conta sobre as reuniões mensais do Clube do Picadinho – confraria que há décadas reúne sete amigos de longa data – que ao longo dos anos passaram de rituais de poder a melancólicas assembleias onde cada um deles narra seus fracassos e trocam desafetos.  Mas esses tempos estariam com os dias contados com a chegada de Lucídio (Matheus Nachtergaele),  um misterioso cozinheiro que passa a lhes servir banquetes de altíssimo nível. Os laços de amizade estão de volta, é a gula como celebração da vida. Mas há um porém: depois de cada jantar, um integrante da confraria amanhece morto. 

Essas mortes seriam envenenamento?  Não sabemos ao certo, mas tudo leva a crer que sim. O fato é que outro jantar seria marcado em breve e mais um deles passaria da mesa para o caixão no dia seguinte, assim como ovelhas seguindo felizes para o matadouro. Defanti aposta em uma pegada sombria, com traços do suspense, principalmente quando o Lucidio de Nachtergaele está em cena. A curiosidade em torno desse personagem ultrapassa as quatro paredes do cenário, esse quase sempre em torno na mesa, e intriga o público, que mesmo sendo revelado o porque se sua presença ali, ainda é possível duvidar de suas reais intenções para com o grupo.

Para além de uma simples punição em razão do pecado da gula, a proposta engloba muitos outros lugares nessa narrativa, cuja movimentação rompe com as dinâmicas convencionais de representação e torna ainda mais atraente ao público o desenvolvimento de questões  que vão desde política até a lealdade entre amigos. Em suma, 'O Clube dos Anjos' nada mais é do que uma crónica mordaz de como homens lidam com seus desejos mais profundos, que nem um mero indício de decadência é capaz de brecar o avanço de um trem que segue a todo vapor em trilhos despedaçados para um grande precipício. 

Com um elenco que ainda ostenta nomes como Otávio Müller, Augusto Madeira, André Abujamra, Marco Ricca, Paulo Miklos, Ângelo Antônio e  César Mello, 'O Clube dos Anjos' é mais um flerte com o cinema de gênero no texto sempre brilhante de Veríssimo. 



Vale Ver!












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