Adsense Cabeçalho

'As Nadadoras' é uma jornada inspiradora através do drama dos refugiados | 2022

NOTA 8.0

Por Karina Massud @cinemassud 

Calada da noite no revolto mar Egeu. A nadadora Yusra dá uma longa olhada no punhado de medalhas que ganhou em competições pra fixá-las na memória antes de jogá-las na água, para em seguida  pular junto de sua irmã Sarah.  Nesse ato desesperado e heroico, as irmãs Mardini se atiraram do bote diminuto e cheio de refugiados  sírios para ele não afundar, e assim chegarem à Grécia. Esse é apenas um dos muitos momentos de perigo extremo pelos quais passam as irmãs depois da fuga da Síria em busca de paz e condições para treinar pras Olimpíadas.  A guerra civil que devasta o país desde 2011 e que parece não ter fim, fez delas  parte das 30 milhões de pessoas que escaparam de guerras. Segundo estimativas da ONU (Organização das Nações Unidas), o número total de expatriados no mundo, pessoas forçadas a fugir de conflitos, violações de direitos humanos e perseguições, já ultrapassou o assustador número de 100 milhões.

A história verídica é naturalmente dolorida e poderia facilmente cair no melodrama sensacionalista, mas felizmente não cai. A diretora galesa-egípcia Sally El Hosaini conduz a trama com competência, tirando o máximo de tensão de cada cena que retrata situações  dessa jornada de sobrevivência que mais se assemelham a um filme de terror; as garotas enfrentam “coiotes” desonestos, fronteiras fortemente protegidas, estupradores e a demorada burocracia para conseguir asilo na Alemanha.  Algumas associações de flashbacks felizes com momentos presentes difíceis soam artificiais, mas são irrelevantes diante da comoção causada pelo todo. Há uma sequência que me derrubou emocionalmente: a cena da natação no mar em paralelo com a da festa adolescente ao som de “Titanium”, da cantora Sia, com bombardeios ao fundo que teimam em fazer do ambiente bélico  algo normal. O turbilhão de emoções é vasto: tristeza pelo que ficou para trás, insegurança pelo que virá, alívio por chegar em um lugar pacífico e alegria pelo recomeço.

Boa parte da trama foca na dura viagem das atletas até a Alemanha, sua resiliência e tenacidade; e no terço final o centro é o esforço e ousadia de Yusra para realizar seu grande sonho de ir para as Olimpíadas do Rio 2016. O longa não se aprofunda no grave problema dos refugiados, nem nas consequências desse êxodo, como a xenofobia e movimentos extremistas; muito menos aborda soluções. A crise global é apenas pano de fundo pro drama de Yusra e Sarah, porém é suficiente para trazer ao público não só essa questão tão urgente, como também a reflexão sobre a solidariedade que os exilados merecem de nós.

“As Nadadoras” arranca muitas lágrimas e é pura inspiração pra lutarmos pelos nossos sonhos. Quantas vezes reclamamos de pequenas atribulações do quotidiano, coisas fáceis de resolver, quando existem pessoas com problemas maiores que o mundo, que arriscam tudo, até a vida, em busca de uma pátria onde possam viver com dignidade.


Vale Ver!



Nenhum comentário