'O Amor dá Voltas': romance de desencontros tem altas doses de doçura e amadurecimento | 2022
NOTA 7.5
Toma teu tempo
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Como já bem cantava Arlindo Cruz, "[...] até hoje ninguém conseguiu definir o que é o amor". É propício, porém, que definamos o amor em nossa limitação através da maneira como o sentimos, classificando-o transversalmente pelo seu reflexo em nós mesmos como que atestando o que ele é por meio de seus efeitos colaterais. Desse modo, é possível dizer que o amor é nobre, lindo e poético, mas que também pode ser complicado, trágico e caótico - dependendo da maneira como se olha para ele. Tendo isso em vista, acredito não haver exageros ao afirmar que a abordagem dada ao tema pelo longa 'O Amor dá Voltas', de Marcos Bernstein, se equilibra com leveza entre essas duas faces tão distintas (poesia e caos) e, ao mesmo tempo, tão próximas. O título pode dar a entender que o filme enrola em estabelecer sua problemática e suas resoluções, mas é um engano gracioso - na verdade, ele se refere às mudanças que o amor provoca, com surpresas e REVIRAVOLTAS, como se brincasse com o ditado popular "o mundo dá voltas". Sua narrativa não reinventa a roda, mas é bem acabada e possui um requinte de refinamento que é, curiosamente, bastante popular. Inegavelmente faz-se uso aqui de alguns bons e velhos clichês do gênero, mas esse uso é bem aplicado em momentos oportunos e empregado em favor da evolução da narrativa, sem cair em cafonices além do necessário.
O roteiro, assinado pelo diretor Marcos Bernstein em conjunto com Marc Bechar e Victor Atherino, é prático e bastante objetivo em sua cadência, sendo funcional até quando recorre a algumas facilitações de cartilha - e os personagens criados por esse trio não teriam expressões tão tangíveis se não houvesse uma ótima escolha de seus intérpretes. O elenco é jovem e maduro na medida cirúrgica que o roteiro demanda, e o protagonista (André, interpretado com um carisma atrapalhado e inseguro por Igor Angelkorte) tem uma carga de dilema que se sustenta na projeção da empatia com o público, enquanto as protagonistas femininas (encarnadas com muito talento e tato pelas belezas sempre estonteantes de Juliana Didone e Cleo, também excelentes em seus respectivos papéis como Beta e Dani) possuem arcos apaixonantes que promovem a comoção necessária para a trama fluir e a problemática familiar se estabelecer - e, de igual maneira, se justificar.
'O Amor dá Voltas' é um romance clássico em tempos modernos, onde os encontros e desencontros fomentam as relações humanas através dos sentimentos mais simples e cruelmente confusos - sentimentos como esse que chamamos de amor. As constâncias e inconstâncias das personagens que a obra apresenta se tornam palco para o autoconhecimento e amadurecimento de todas as partes envolvidas (inclusive da plateia), revelando que até mesmo as mais estranhas incongruências da vida possuem um significado intrincado à nossa inclinação e necessidade ao amor. O resultado daquilo que o filme constrói em seus quase 100 minutos é um verdadeiro calorzinho no peito, misturando a juventude e a experiência na geração de anseios e confortos que, juntos, são um lembrete vívido das dúvidas e borboletas no estômago que o amor consegue evocar. Me apaixonei, me dividi e me encantei enquanto o filme era exibido - coisa que há muito não me acontecia em sessões assim. "Às vezes as pessoas demoram pra escolher o que querem da vida", disse a personagem de Didone em uma cena; é um pensamento duro, porém adequado - mas o próprio filme ensina que, no fim, talvez essas pessoas que demoram para escolher sejam apenas suas próprias continuidades, com futuros e sentimentos em aberto, tal qual a… reticências.
'O Amor dá Voltas' é produzido pelas agências Neanderthal e Pontos de Fuga, distribuído pela Imagem Filmes e pela Globo Filmes, com produção de Nathalie Felippe.
Vale Ver!
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