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'Uma Mulher do Mundo' : Laure Calamy brilha como prostituta militante e mãe dedicada | 2022

NOTA 8.0 

Por Rogério Machado 

É claro e evidente que o nosso preconceito nos impede de ver além das aparências, de fazer leituras mais justas sobre uma determinada situação e principalmente acerca de alguém. O cinema  é uma dessas  ferramentas capazes te tirar a venda dos nossos olhos e desconstruir pensamentos.  Em 'Uma Mulher do Mundo' Laure Calamy dá vida a uma prostituta que é capaz de desmistificar nossos conceitos sobre a vida por trás de uma imagem.


Na trama conheceremos Marie (Calamy), uma prostituta independente, mãe solteira e militante engajada do sindicato das profissionais do sexo. Marie nunca precisou da ajuda de ninguém, inclusive na hora de criar o filho, Adrien (Nissim Renard). Quando o rapaz, que tem muito talento para cozinhar,  é expulso da escola por notas baixas e mal comportamento, ela decide matriculá-lo em uma das melhores escolas de culinária da França. O problema é que seus ganhos com os programas  não lhe permitem pagar as parcelas iniciais do curso. Sonhando com um futuro melhor para o filho, Marie deseja vê-lo nessa renomada escola de gastronomia francesa, e para isto, ela tem que encontrar uma solução, custe o que custar. 

Marie é uma mulher naturalmente determinada e como mãe uma leoa - ela milita incansavelmente para que sua profissão seja legalizada, e além disso precisa estar ligada o tempo inteiro nos passos de Adrien, que ainda por cima tem um comportamento arredio e insubordinado. Além de lutar pelo futuro do filho, Marie também desbrava territórios e guerreia  contra  uma sociedade que promove a invisibilização de pessoas como ela. A direção de Cécile Ducrocq faz um trabalho de humanização tão impecável com sua protagonista que se torna simples a tarefa de separar a mãe dedicada da prostituta guerreira, e ao mesmo tempo vê-la como uma coisa só, sem que a prostituta desmereça a mãe, muito pelo contrário. 

Não raras vezes o cinema já nos apresentou intérpretes vivendo a 'profissão mais antiga do mundo', mas na grande maioria dessas representações vimos figuras com nuances romantizadas ou sexualizadas em excesso. A profissional do sexo de Ducrocq é absurdamente humana, sem qualquer glamourização e totalmente voltada a cumprir sua missão como mãe e mulher - sua atuação dentro do ofício não somente está direcionada para sua provisão e a viabilização do sonho do seu filho, mas também pela conquista de direitos do coletivo no qual ela se insere, não somente nas questões práticas, como a regulamentação da profissão, mas também pela luta contra o fim do preconceito. 

Laure Calamy, uma das grandes atrizes francesas da atualidade, com toda versatilidade que lhe é comum, entrega ao público uma Marie poderosa, que defende com unhas e dentes não só uma personagem, mas promove discussões muito pertinentes sobre o papel da mulher na sociedade, seja ela quem escolher ser.



Vale Ver!







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