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'Wendell & Wild' : uma fábula macabra sobre perda e exploração | 2022

NOTA 7.5

Por Karina Massud @cinemassud 

Kat é uma garota que cresceu sob o trauma de ter perdido os pais num acidente, e o pior, de se culpar pela tragédia, o que a levou a caminhos tortuosos de delinquência e casas de recuperação para adolescentes marginais. Por trás da figura agressiva da jovem punk de cabelos verdes, botas com plataformas enormes, piercings e rock no último volume no boombox, se esconde uma garota com potencial pra dar a volta por cima e ser feliz – só que ela não se acha merecedora. Quando Kat é enviada pro último reformatório que restou e tudo parece perdido, ela descobre que pode trazer seus pais de volta por meio de um pacto com Wendell e Wild, dois demônios atrapalhados e sonhadores que querem sair do submundo pra viver na terra dos vivos.

O roteiro de “Wendell & Wild” saiu das mentes borbulhantes de Henry Selick e Jordan Peele (que ainda dubla o Wild ao lado do seu amigo de longa data Keegan-Michael Key, a voz do Wendell) e é uma avalanche de informações. Os diversos arcos narrativos são muito criativos, porém suas pontas ficam sem uma boa amarra: a ressurreição dos mortos com o creme de cabelo, o incêndio criminoso na fábrica de cerveja, o ursinho de pelúcia sobrenatural e a maldição das donzelas do inferno. Henry Selick (“O Estranho Mundo de Jack” e “Coraline”) também dirige o longa, imprimindo nele sua assinatura de uma atmosfera sombria porém lúdica.

Se existem essas pequenas falhas na trama, no que tange ao visual o apuro técnico é extremo, a animação em stop motion ( técnica onde  fotos de bonecos de massinha são colocadas quadro a quadro, dando a ilusão de movimento) é linda e os detalhes dos personagens e cenários são primorosos, cada cor, textura e forma  são perfeitos pra cada um deles. Traços cubistas e bizarros nos demônios e no casal de empresários maléficos (claramente inspirados em Donald Trump e em Cruella) e arredondados nos que ainda tem o bem dentro de si. E para arrematar tanta beleza visual, uma trilha sonora de alta qualidade, com Living Colour, Fishbone, Hot Chocolate e Tv On The Radio.

A crítica social é forte. As crianças marginalizadas precisam apenas de um pouco de valorização pra deixarem a delinquência e participarem de forma saudável da sociedade. Os monstros aqui não são os diabinhos, mas os industriais capitalistas que fazem qualquer coisa por lucro, até matar.

A jornada emocional de Kat se desenrola pela vivência do luto até a difícil linha de chegada da aceitação; apesar de durona, ela cativa e é a verdadeira protagonista do longa.  E a esperança, que todos nessa história buscam, vem de quem menos se espera, da dupla Wendell e Wild, que jamais desistiu do seu sonho.


Vale Ver!




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