'Moonage Daydream' : projeto é uma passagem só de ida ao mundo fantástico de Bowie | 2022
NOTA 10
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
Apresentado no Festival de Cannes 2022 e dirigido por Brett Morgen, ‘Moonage Daydream’ trata da vida e carreira do astro David Bowie. Em uma decisão criativa arriscada, porém acertada, o diretor conduz o documentário de maneira nada ortodoxa, como uma explosão cósmica narrada pelo próprio Bowie, única voz presente durante todo o filme. Cada discurso dialoga com o que há de mais íntimo e pessoal deste ícone que mudou o panorama do rock nos anos 70 e influenciou gerações. Assim como todo gênio, sua existência e obra se confundem. Fenômeno que se intensificou com o passar dos anos, chegando ao ponto de, uma vez encerrada, ser impossível distinguir o homem do mito. Dito isso, a estrutura proposta torna essa viagem ao planeta Bowie, mesmo que altamente imersiva, pouco voltada aos que pretendem entende-lo, afinal, o exercício de compreensão nunca foi para ele um fim e sim, o meio para todas as coisas.
‘Moonage Daydream’ precisou de cinco anos para ser concluído e foi o primeiro autorizado pelos herdeiros. Brett Morgen já havia retratado uma grande personalidade com ‘Kurt Cobain: Montage of Heck’ (2015), contudo, aqui o trajeto segue outra pegada, principalmente de ritmo e tom. O longa tem início com uma provocação deixada por Bowie ainda em 2002, onde ele questiona as contradições herdadas pela sociedade, usando como exemplo a provocação de Friedrich Nietzsche quando este proclamou a “morte de deus”. O que vem a seguir é uma série de indagações filosóficas que se enveredam por muitos caminhos, mas não é exagero dizer que a todo momento perpassam o pensamento do filósofo alemão, sua principal referência. Apesar da densidade de conteúdo, as palavras de Bowie não soam herméticas nem restritivas. A sabedoria da qual ele se sustenta é “apenas” base para observações e comentários muito próximos de nós, contemporâneos. O ritmo é fluido e se assemelha a um concerto, não só pela progressão narrativa, como também pela linearidade com que ela é contada. Vistas sob a ótica habilidosa de Brett é possível, ao fim dela, enxergarmos muita lógica na falta de sentido, dois aspectos que acompanharam toda trajetória de Bowie.
Em 10 de janeiro de 2016, há exatos 7 anos, David Bowie partiu. Dois dias antes, completou 69 anos e lançou ‘Blackstar’, seu o último trabalho e, literalmente, sua despedida.
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