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'A Fera do Mar' : animação é uma linda aventura sobre empoderamento feminino e proteção animal | 2022

NOTA 9.0

Por Karina Massud @cinemassud 

A Netflix não tem tradição em produzir animações originais como a Disney, Studio Ghibli ou Pixar. Quer dizer, não tinha, pois nos últimos anos o serviço de streaming tem investido cada vez mais em animações como “Klaus” ( indicada ao Oscar), “Apollo 10 ½”, “Pinóquio de Guillermo Del Toro” e “A Fera do Mar” (esses dois últimos indicados ao Oscar 2023 na categoria), dando liberdade criativa pros diretores e assim garantindo alta qualidade e originalidade.

O roteiro de “A Fera do Mar” é bem simples: a história se passa num reino que vive em guerra contra os monstros marinhos, e por isso existem muitos caçadores que travam batalhas diárias contra eles, pelas quais são aclamados e premiados pelo rei. O Capitão Crow é o caçador número 1, e junto de seu pupilo Jacob descobrem um monstro vermelho que parece imbatível e que vira a obsessão de todos, caçá-lo é uma questão de honra.  Maisie é uma órfã destemida que sonha em fazer parte dessas aventuras fantásticas, e pra isso se esconde no navio “Invencível” para junto da tripulação e de seu herói Jacob, ir à caça da ameaça maior.

A jornada de Maisie e Jacob, que começa em busca do tão temido monstro marinho, se transforma numa viagem de crescimento e expansão dos horizontes. Maisie, na sua sabedoria simples mas pontual de criança, passa a enxergar a grande Vermelha (sim, é uma “monstra” menina) de outra forma e a abrir os olhos de Jacob pra ignorância em que viviam. Muitas vezes uma tradição é cega e precisa ser adaptada à novas realidades. 

O diretor e animador Chris Williams (“Bolt” e “Big Hero 6”), egresso da Disney, tem um olhar estético apurado que é percebido no cuidado dos traços e nos detalhes belíssimos da animação. As ondas do mar, o tecido das roupas, a vegetação da ilha, os reflexos, a delicadeza das nuvens e as muitas texturas do filme saltam aos olhos, assim como a paleta de cores vibrantes. Mas o esmero não é apenas visual, as cenas de ação no mar são eletrizantes e a relação de Maisie com Jacob, o herói do livro que ela carrega sempre consigo, é igualmente linda.

Há referências ao clássico da literatura “Moby Dick”, onde o pescador fica preso dentro da baleia que tanto persegue. A semelhança com a premissa de “Como Treinar o Seu Dragão” e da  fofa criatura Vermelha com o dragão Banguela são claras, o que não desmerece em nada o longa, pois homenagens e alusões a boas produções são sempre bem-vindas.

A pluralidade social está presente em todos os núcleos da trama de forma orgânica, sem discursos; além da protagonista Maisie ser uma garotinha negra, temos mulheres na tripulação do navio, figuras andróginas e até a Vermelha é uma criatura marinha feminina, numa sacada genial. O roteiro exalta o respeito aos animais e às diferenças, e questiona quem de fato seria o monstro da história. “A Fera do Mar” é um filme adorável, digno da indicação ao Oscar de Melhor Animação que recebeu e que encanta adultos e crianças.





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