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'Mato Seco em Chamas': filme premiado no Festival do Rio mostra a força das mulheres em um país dividido | 2023

NOTA 6.5

Por Eduardo Machado @históriadecinema

Um país do futuro, mas o mesmo de sempre. Este é o Brasil de “Mato Seco em Chamas”, longa que mistura documentário e ficção distópica no cenário de uma das maiores favelas do mundo, “Sol Nascente”, em Ceilândia, nos arredores de Brasília, a capital Federal. Porém, sigo com a reflexão: afinal, o que vivemos aqui no Brasil, sobretudo no período da ascensão do ex-presidente Jair Bolsonaro, já não nos remete, de qualquer modo, a uma distopia? Ora, se distopia, por definição, significa a representação de uma organização social cujos valores representam a antítese de utopia, o Brasil de Bolsonaro, de fato, poderia ser facilmente descrito como uma sociedade distópica.

Neste sentido, a escolha dos cineastas Joana Pimenta e Adirley Queirós pelo híbrido entre documentário e ficção é o que mais agrada no longa que arrebatou o prêmio especial do Júri no Festival do Rio de em 2022, na medida em que o Brasil de verdade não está muito longe do Brasil de mentira.

Na ficção do roteiro escrito por Adirley e Joana, o povo da favela descobre petróleo no subterrâneo da Sol Nascente, possibilitando que o povo pudesse extrair e refinar combustível, sempre liderado por mulheres. Essas mulheres interpretam extensões ficcionais de suas personas reais e sua fascinante presença na tela está no centro do híbrido de docu-ficção. Longas tomadas, monólogos discursivos e panorâmicas lentas permitem que os diretores forjem uma linguagem cinematográfica inventiva a partir da consciência política. Deste modo, evita os códigos narrativos do cinema tradicional, combinando imersão e observação, para fornecer uma personificação multifacetada da feminilidade marginalizada no Brasil contemporâneo.

“Mato Seco em Chamas”, por mais ficcional que seja, é um filme no qual a realidade se impõe. Não é fácil viver na distopia criada pelos diretores, mas talvez pior ainda seja conviver com o fascismo batendo à nossa porta. Melhor pensar que existem mulheres que lutam. Apesar de tudo.







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